A Santiago sempre se vai, nunca se chega. A frase é repetida por todos que já seguiram as setas amarelas que indicam os diversos caminhos que levam à mítica cidade, no noroeste espanhol. A rota chega a ter 1 mil quilômetros de extensão, dependendo da rota escolhida. Apesar da origem religiosa – São Tiago Maior era um dos doze apóstolos de Jesus Cristo -, a peregrinação que é feita há mais de 1 mil anos leva principalmente a uma reflexão interior que independe das crenças das igrejas.
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:: Encontrando um sentido para recomeçar
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Este ano, Inácio Stoffel, 65 anos, foi pela quarta vez ao Caminho de Santiago. Com algumas publicações na área da Psicologia, ele experimentou uma vertente literária nova após as primeiras viagens e chegou a escrever dois livros de ficção: Águas Peregrinas e Gertrud. De acordo com ele, o período de reflexão e as pessoas que encontrou nas caminhadas o inspiraram a se tornar um romancista.
– No caminho, você faz uma descoberta interna que vai com você pelo resto da vida. Não é em Santiago que a jornada termina, mas onde ela começa – diz.
No caso da catarinense Maria Cirlene Cordiolli, 62 anos, a saga peregrina serviu como um estímulo a enfrentar novos desafios. Após a primeira caminhada na Espanha, já foi andar na Inglaterra e se prepara para o Caminho de Shikoku, no Japão, que tem mais de 1,2 mil quilômetros de extensão.
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– Gostaria de fazer uma caminhada em cada continente. Ainda tenho tempo e energia para isso – brinca Maria Cirlene.
Religião e religiosidade
O desafio mental de cada peregrino não está atrelado a uma religião, mas sim a uma religiosidade individual, defende a professora de história medieval da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Aline Dias da Silveira, que estuda religiões no período:
– A religião está ligada a uma instituição política. Já a religiosidade é a ligação da pessoa com um ente divino, o que remete a um silêncio pessoal. A longa caminhada deve ajudar nesse processo de reflexão. Por isso, independente de ter uma religião ou não, o percurso acaba provocando um autoconhecimento do peregrino – explica.
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A origem dos peregrinos
A história oficial relata que em 813, um pastor de nome Pelaio teria sido guiado por uma milagrosa “chuva de estrelas” que indicava a localização de um túmulo no monte Libradón, que depois foi anunciado como de São Tiago Maior, apóstolo de Jesus e irmão de São João Evangelista. Nos anos seguintes, o caminho se tornou uma região de peregrinos que hoje atrai mais de 200 mil pessoas por ano, com diferentes rotas, principalmente Espanha, França e Portugal. A historiadora Aline Dias da Silveira explica os motivos:
– Havia um receio da Igreja Católica de uma expansão do islamismo na Península Ibérica. Nessa época, século 5, houve o surgimento dos santos, e seus túmulos ajudavam igrejas a arrecadar riqueza.
Com o tempo, Compostela desenvolveu suas próprias tradições, como o da concha (chamada de Vieira) e a seta amarela, que ajudam a orientar os peregrinos durante o trajeto. Outro item é a cartela das associações mundiais para receber os carimbos em cada cidade que o participante passa. No final do trajeto, na catedral, o viajante recebe a Compostelana – certificado oficial do peregrino.
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