O relógio marcava 4h de quinta-feira quando Eva Pires de Moraes, 38 anos, recebeu a informação de que havia um coração compatível. Começava ali, em um leito do Hospital Santa Isabel, a jornada de coincidências e imprevistos que mudaria a vida da moradora de Penha. Ela esperava por um transplante há três meses. Foram 14 horas de espera até Eva sentir o pulsar dos novos dias de vida.

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Na quarta-feira, às 18h, o médico cirurgião cardíaco, Frederico Di Giovanni, havia recebido a ligação em Blumenau da Central de Transplantes, informando a existência, em Joinville, de um doador para Eva. A partir dali, equipes médica e de transportes planejaram uma operação de risco que terminaria 24 horas depois. Entre a retirada do doador e a chegada ao receptor, o coração pode ficar sem bater por no máximo quatro horas.

Confira a cronologia do procedimento de transporte

De Florianópolis, o delegado de Polícia Civil e piloto Djalma Alcântara decolou às 7h de quinta-feira com destino a Blumenau para buscar dois médicos e levá-los a Joinville. No trajeto, Alcântara percebeu que o tempo cinzento poderia interferir no procedimento de urgência. Ao sair do hospital joinvilense, o piloto concluiu que não poderia seguir adiante e acionou uma ambulância, que já estava de prontidão em Gaspar.

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– Não tinha mais como avançar sem colocar em risco a tripulação e os médicos. Tivemos que pousar em um posto, ainda longe da ambulância. Começou uma corrida contra o tempo – contou o comandante.

Do Hospital Santa Isabel, Di Giovanni monitorava o transporte do órgão. Cerca de 10 minutos depois da decolagem, soube que o helicóptero pousara em Piçarras e que o piloto buscava ajuda:

– Ele aterrissou, abriu a porta do helicóptero, deixou os dois médicos e saiu correndo para o posto. Começou a falar com o gerente: “eu tenho um coração, preciso levar para Blumenau ao Hospital Santa Isabel”.

Joilso Ribeiro, o gerente, achou a história familiar. Sabia que a esposa de um funcionário seu, Osni Geraldo do Nascimento, aguardava um transplante no Santa Isabel. Era da mesma pessoa que falavam. Ribeiro se prontificou a levar os médicos à ambulância, que aguardava a equipe na BR-470. Segundo o marido de Eva, o gerente não sabia se acelerava para chegar o quanto antes, ou se ia devagar para evitar um acidente. A troca de veículo foi feita às 13h, em plena rodovia.

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Enquanto o coração da esposa não chegava, Osni contava os minutos. Na sala de espera, recebeu uma ligação de um colega de trabalho que renovou as esperanças:

– Ele me avisou que o helicóptero pousou no posto com o coração e a equipe médica. Eu me arrepiei, era muita coincidência, pois havia um posto do outro lado da rua, e eles poderiam ter pousado lá. Foi um alívio.

Na sala de cirurgia, o tórax de Eva já havia sido aberto para receber o novo coração. Um órgão artificial a mantinha viva, quando a equipe chegou ao centro cirúrgico, às 14h. Foram três horas e 55 minutos da saída de Joinville ao peito de Eva.

– Alguns detalhes foram fundamentais. A insistência do comandante. Ele poderia ter cancelado quando viu que o tempo estava ruim, mas veio. Desceu em Piçarras, pediu ajuda. Foi essencial para o sucesso desse transplante – comemorou o cirurgião Di Giovanni.

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