Um mito que herdamos de nossos pais e avós é a perigosa noção de que ¿é melhor a criança trabalhar do que ficar na rua¿. Como eles, repetimos essa frase sem perceber seu falso dilema: ambas situações são inadequadas e perigosas para crianças e adolescentes. É como se tivéssemos de escolher entre dois caminhos que não levam a lugar algum.

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Já é hora de escapar dessa armadilha e reconhecer que o trabalho sem qualificação não representa uma boa alternativa aos adolescentes. Ao contrário. Ingressar no trabalho de forma precoce traz inúmeros riscos à saúde, expõe crianças e adolescentes a situações de assédio e prejudica o rendimento escolar.

Sem condições de se aprimorar, o indivíduo que começa a trabalhar cedo terá de aceitar as piores ofertas de emprego. É neste momento que ele cai num círculo vicioso que o tornará mais um trabalhador pouco qualificado e sem perspectivas, perpetuando sua condição de pobreza. Segundo o IBGE, este é o futuro para o qual 100 mil cidadãos catarinenses de 5 a 17 anos estão caminhando.

A alternativa para quebrar esse ciclo é a aprendizagem, forma especial de contrato que permite ao adolescente com 14 anos ingressar no mercado e aprender uma profissão. O aprendiz tem supervisão direta e jornada reduzida. Assim, sem deixar de ir à escola, aprende uma função que realmente vai aprimorar seu currículo e alavancar sua carreira.

A aprendizagem também é um ótimo negócio para as empresas, que podem usar esse modelo para formar profissionais qualificados e identificados com a organização. Há países nos quais os aprendizes são disputados, a exemplo da Alemanha. Apenas em SC, existem 30 mil vagas que poderiam ser preenchidas dessa forma.

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Hoje, no Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, fica o convite para repensarmos velhas ideias e refletirmos sobre a incrível transformação que a aprendizagem pode ter sobre a economia e a sociedade catarinense, representando, sobretudo, um caminho seguro para nossas crianças e adolescentes.

*Maria de Lourdes Leiria é desembargadora do TRT-SC

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