O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, criticou na noite dessa quinta-feira, na Associação Empresarial de Joinville (Acij), a confusão entre ética pública e privada, a histórica distorção de representatividade, a criminalidade e as condições das prisões no País. Ele palestrou durante quase uma hora e meia sobre O poder e a ética no Brasil para cerca de 400 pessoas e pediu para que o tema eleições não entrasse no debate ou nas perguntas dos participantes.

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Durante boa parte da palestra, ele criticou a confusão entre o público e o privado e disse que o governante não tem carta branca para fazer o que quiser, embora isso esteja presente no dia a dia do brasileiro.

– O voto não é uma carta branca para que o governante faça o que lhe vier à mente – disse, lembrando que “há um contraste entre o que consta na Constituição, nas leis, no papel e a prática efetiva das instituições”.

Barbosa não citou diretamente o processo do mensalão, do qual foi relator. Ele ganhou notoriedade em todo o País nas transmissões ao vivo das sessões do julgamento, quando se manifestava sempre com rigidez com relação aos acusados.

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O ex-ministro chamou de catástrofe o modelo histórico de eleição, fazendo um paralelo entre os métodos das eleições nos séculos passados e o atual. Segundo Barbosa, em 1872, 13% da população votava. Em 1886, ainda de acordo com o ex-presidente do STF, o percentual caiu para 0,8% da população.

– O efeito que isso tem é essa apatia do brasileiro. Essa resignação, a forma como o brasileiro aguenta os abusos dos dirigentes, sem rebeliões. Isso teve e ainda tem um efeito muito grande – disse, enfatizando que uma das causas da corrupção pode ser identificada claramente na maneira como a sociedade brasileira se organizou.

Um dos momentos que mais chamou a atenção foi quando Barbosa opinou sobre o que viu nas prisões brasileiras.

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– Me perdoem uma certa amargura, mas há uma espécie de pacto entre as autoridades detentoras de poder punitivo e setores privilegiados da sociedade – disse.