O economista Maílson da Nóbrega sabe bem o que é encarar uma grave crise econômica. Ele foi ministro da Fazenda no governo José Sarney entre janeiro de 1988 e março de 1990, período marcado pela explosão inflacionária no país. Hoje, do outro lado da mesa, é um dos mais requisitados consultores e analistas de finanças públicas do país.
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Para ele, o Brasil já tem dois dos três fatores necessários para superar o momento de turbulência: ideias de reformas estruturais e apoio dessas ideias por parte da sociedade. Faltaria apenas uma liderança capaz de mobilizar o sistema político para aprová-las.
Maílson estará em Blumenau nesta terça-feira. Avaliará em palestra no Teatro Carlos Gomes, às 19h30, o atual momento da economia brasileira e apontará tendências para os próximos três anos. O evento é uma iniciativa da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Blumenau e da Universidade Corporativa Dom Henrique de Sagres (UniSagres). Em meio a uma agenda lotada, o ex-ministro concedeu entrevista ao Santa por e-mail. Confira:
O Brasil vive um momento que combina crise econômica e política. Como se livrar da paralisia institucional?
Na verdade, não vivemos paralisia institucional, mas o contrário, isto é, o pleno funcionamento das instituições. Tudo isso é muito positivo, embora traga o efeito colateral da paralisia decisória no Executivo e no Legislativo, e a piora do clima de confiança, que inibe o consumo e os investimentos. Esse processo tende a ser revertido com a renovação das lideranças políticas, seja pelo processo de impeachment – que se tornou muito provável – seja pelas eleições de 2018, nas quais são quase inexistentes as chances de vitória do PT.
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Crises são cíclicas. O Brasil já passou por outras e conseguiu se recuperar. Esta é diferente das demais? Por quê?
O Brasil se saiu bem em todas as suas grandes crises, as quais constituíram oportunidade para a aprovação de reformas institucionais que aumentaram a eficiência da economia, a produtividade e a elevação do potencial de crescimento. Em todos esses momentos, a mudança para melhor decorreu de três fatores: 1) existência de ideias para promover reformas; 2) apoio majoritário a essas ideias por parte da sociedade; 3) liderança para mobilizar o sistema político em favor da aprovação das respectivas medidas. Os governos Castelo Branco e FHC são os dois casos mais destacados. Em ambos, as reformas foram seguidas de um novo ciclo de prosperidade. Neste momento, já dispomos de dois desses fatores, isto é, ideias para reforma e apoio em favor das mudanças. Falta o líder, que poderá surgir das eleições de 2018.
Durante muito tempo o crescimento do país foi impulsionado pelo fomento ao consumo e acesso facilitado ao crédito. Esse modelo, hoje, parece esgotado. Que novo modelo deve ser adotado?
As fontes do crescimento são o investimento, a incorporação de mão de obra ao processo produtivo e a produtividade. O consumo é relevante, mas não pode substituir esses fatores. O estímulo ao consumo, sem correspondência no aumento da oferta, foi um dos grandes equívocos dos governos petistas a partir de 2008. Esse equívoco, as intervenções desastradas na economia e a corrupção sistêmica são a causa básica da grave crise que nos assola. A saída está em reformas para restaurar a força daquelas três fontes.
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Há anos se discute as reformas tributária, política e da previdência. Por que elas não saem do papel?
Tratam-se de reformas complexas, que afetam interesses variados de grupos de interesse (servidores públicos, aposentados, corporações da educação e assim por diante), da classe política, de governadores e prefeitos. Daí a dificuldade de sua aprovação. Elas requerem bom diagnóstico, propostas competentes e liderança política transformadora, tudo que não temos tido nos anos do PT no governo. E mesmo que haja a escolha de um bom líder em 2018, essas reformas não sairão de uma só vez. Tendem a ser incrementais e morosas. É assim na democracia. No autoritarismo, as reformas podem sair mais rapidamente, mas podem ser revertidas por não terem podido contar com a participação dos distintos grupos da sociedade.
Um dos motivos alegados pelo governo para nomear Lula para a Casa Civil é a capacidade de articulação política do ex-presidente. Por outro lado, há quem garanta que ele só entrou no governo para ter foro privilegiado. Colocá-lo na esplanada é uma boa estratégia do Planalto?
A percepção tem sido a de que a nomeação de Lula para a Casa Civil foi uma manobra para lhe conferir o foro privilegiado e contribuir para evitar o impeachment. Lula tem melhor capacidade de articulação, que parece inexistente em Dilma, mas a reação da sociedade à manobra e a revelação das conversas dele com vários atores políticos reacendeu o incentivo para as manifestações de rua. A estratégia pode ter sido um tiro no pé, acelerando o ritmo de andamento do processo de impeachment e a interrupção mais rápida do mandato de Dilma.
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Quando o país vai voltar a crescer?
Talvez em 2017, ainda a ritmo medíocre. A aprovação do impeachment pode melhorar o ambiente de expectativas e contribuir para um crescimento maior em 2018, entre 1% e 2%. Crescimento mais robusto somente acontecerá com reformas para aumentar o investimento e a produtividade. Isso é coisa para acontecer de 2019 em diante.
INGRESSOS
Pelo site www.unisagres.net, com Bruno pelo e-mail campus01.ger2@unisagres.net ou pelo telefone 3221-5777.