Líder histórico do MDB (como se refere até hoje ao partido que ajudou a fundar na época da oposição à Ditadura) e senador por 24 anos ininterruptos entre 1991 e 2014, o gaúcho Pedro Simon, 87 anos, mescla otimismo e preocupação ao analisar a situação política do país. Ao mesmo tempo em que destaca as prisões que quebram uma longa tradição de impunidade, teme que um grande acordão anistie os crimes cometidos pelos mais diversos partidos.
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“Tem muita gente apavorada. Gente acostumada a dar jeitinho. Já se fala até em anistia ampla e geral, porque está todo mundo envolvido”, alerta Simon, em entrevista ao Notícia na Tarde da CBN Diário nesta quarta-feira, na véspera da palestra gratuita que irá ministrar em São José. “Não tem MDB, não tem mais aquela história de que o PT é o único santo. Está todo mundo envolvido, MDB, PT, PSDB… Esse é o perigo. O Brasil está sendo passado a limpo. A sociedade não pode deixar que se faça um borrão e passe adiante.”
Simon faz uma retrospectiva das sucessivas crises institucionais: “Em 1954 tivemos uma tremenda crise, na campanha imensa do Lacerda que terminou com o suicídio de Getúlio Vargas. E não se apurou absolutamente nada. Em 1964, a Igreja, o (movimento) Deus, pátria e família, a sociedade foi para rua exigir a deposição de João Goulart dizendo que era o maior fazendeiro do mundo. Veio uma ditadura durante 20 anos. Cinco generais. Fizeram horrores. Cassaram, prenderam, torturaram. Milhares de exilados e mortos. Ninguém foi para a cadeia.”
A diferença do passado republicano para a crise atual, prossegue Simon, é a prisão de empresários dos mais ricos do país e políticos, como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. “Não tem mais aquela história de fala, grita, não acontece nada, rico não vai para a cadeia”, destaca.
O ex-senador destaca que a mobilização popular é decisiva para as mudanças e cita a lei da ficha limpa, projeto de iniciativa popular com mais de 1 milhão de assinaturas que permitiu a inelegibilidade de políticos condenados em segunda instância. E compara: “O Lula está tremendo de medo de ser condenado em segunda instancia. Se for condenado em Porto Alegre, babau, não pode ser candidato. No mundo inteiro é assim. Aqui, o Maluf foi condenado 500 vezes e nunca foi para a cadeia.”
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Para melhorar a política, Simon defende em primeiro lugar uma cláusula de barreira. “O Brasil nunca vai ser um país sério com 40 partidos. Não existe em nenhum lugar do mundo. É piada. Partido pode ser feito, nos Estados Unidos é mais fácil criar partido que no Brasil. Os caras fazem uma reunião e registram no cartório. Daí a esse partido ter direito a participar da eleição, é preciso um percentual.”
O segundo item crucial, para o gaúcho, é a fidelidade partidária. “No Brasil é uma anarquia. O cara não muda de time, não muda de religião, mas de partido muda a toda hora. Posso sair do partido, mas perco o mandato. E para ser candidato tenho de estar filiado há um ano.”
Palestra em São José
A palestra do ex-senador Pedro Simon será nesta quinta-feira, 14 de setembro, às 20 horas, no auditório do Campus da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), no bairro Kobrasol, em São José. O evento, gratuito e aberto ao público, terá como tema a atual conjuntura do Brasil e as perspectivas para os próximos anos.
Ouça a entrevista de Pedro Simon na íntegra: