O pronunciamento da presidente Dilma Rousseff na ONU foi muito correto na crítica à espionagem cibernética dos Estados Unidos, realmente uma afronta às relações internacionais e à autonomia dos povos, e na análise da crise econômica mundial, cuja fase mais aguda já passou, mas que ainda tem efeitos graves no mercado de trabalho, nos investimentos e no comércio exterior. Firme e pertinente, o discurso, contudo, não exime o Brasil das lições de casa que precisa fazer em defesa de sua soberania e de seus setores produtivos.
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Pelo menos há duas décadas, as Forças Armadas têm recebido investimentos muito aquém das necessidades de defesa de um país com mais de 200 milhões de habitantes. Somos pacíficos, democráticos e respeitosos à autodeterminação das nações. Porém, não podemos subestimar a história, esta imensa caixa de surpresas. Afinal, vivemos num mundo onde recursos naturais como a Amazônia, o pré-sal, a biodiversidade mais abundante, a maior reserva hídrica e a mais ampla área agricultável disponíveis no planeta despertarão cada vez mais cobiças.
Também não estamos blindados na segurança eletrônica, como comprova a exitosa bisbilhotice dos Estados Unidos, capaz até mesmo de interceptar e-mails de nossa presidente da República. É preciso, portanto, investir nas Forças Armadas e na cibernética. O erro político, a ausência de ética nas relações internacionais e as ameaças conjunturais devem ser condenados, mas não podemos ignorá-los.
Não há dúvida de que os dados apresentados pela nossa presidente na ONU são admiráveis, incluindo a expressiva redução da pobreza extrema e a maior mitigação das desigualdades nos últimos 50 anos. Também é positiva a maneira como enfrentamos e resistimos à crise mundial, com medidas anticíclicas que nos garantem, ainda na presente conjuntura de baixo crescimento, uma das menores taxas de desemprego do mundo. Porém, o modelo esgotou-se. É premente reduzir o custo da produção e a burocracia, ampliar a segurança jurídica e estabilizar o câmbio e os juros em níveis adequados, resgatando a confiança dos investidores.
Precisamos ser mais ambiciosos e não nos resignar com avanços importantes, mas muito inferiores aos que poderíamos alcançar com uma postura de mais compromisso perante o fomento socioeconômico nacional. No presente ritmo, levaremos 40 anos para ascender a um grau mais elevado de progresso, e isso é inaceitável.
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Com medidas práticas e estratégicas, o Brasil saltaria da posição de país de renda média, que conquistou com mérito, para o patamar de nação desenvolvida, que alcançaria com inteligência e uma dose de responsável ousadia! Ah, sim, e com capacidade de defender sua soberania eletrônica e territorial.