No sábado, o escritor mineiro José Fernandes estará em Joinville para participar do 2º Encontro Catarinense de Escritores. Professor de Literatura Brasileira, crítico literário,poeta, cronista e contista, José Fernandes é membro da Academia Goiana de Letras e da União Brasileira de Escritores – Goiás.
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Ele concedeu uma entrevista ao Anexo sobre a crítica literária, a união dos escritores e sua relação com o escritor joinvilense David Gonçalves, sobre o qual acaba de lançar o livro A Arte de Narrar de David Gonçalves.
Confira a entrevista:
Anexo – Qual é a importância dos escritores se reunirem e discutirem as questões de literatura para além do ambiente da universidade?
José Fernandes – Acho importante porque se processa uma troca de experiências entre os escritores e também entre escritor e leitor. Quanto mais leitores se conquistar, melhor para a literatura. O sentido dela é o leitor. Evidente que se escreve sempre procurando o lado estético, a beleza, o texto, mas a razão é o leitor. Além disso, os escritores da região passam a se contactar com mais frequência e abrem espaço para outros escritores, de outras regiões, como é o meu caso, mas este contato com o escritor de fora também processa uma interação e ultrapassagem das chamas ilhas culturais que existem, infinitas, no Brasil todo e são tão difíceis de serem ultrapassadas.
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Anexo – O senhor tem um trabalho muito forte como poeta crítico. Como os dois habitam a mesma pessoa e se relacionam?
José Fernandes – Eu comecei como crítico. De tanto ler poetas, eu descobri que também podia fazer poemas. Quem mais me influenciou no lado crítico, foi o Gilberto Mendonça Telles e, de outro lado, o poético, o Manoel de Barros, sobre quem eu escrevi. O primeiro a escrever sobre o Manoel de Barros fui eu. E a poesia do Manoel de Barros me inspirou muito, tanto sobre o aspecto da crítica, porque ela é extremamente rica, tanto sobre a criação poética. Ele tem o dom, parece, de abrir a imaginação.
Anexo – A crítica literária foi muito forte no início do século 20. Hoje, como o senhor percebe a crítica no Brasil?
José Fernandes – Eu percebo que estão substituindo a crítica nas universidades pela teoria. Então, os trabalhos feitos nas universidades, em vez de o crítico criar, mergulhar no texto que ele analisa, ele fica tangenciando o texto, citando ciclano, beltrano, fulano, e não está criando realmente uma nova crítica. Então, está havendo um teorismo em vez de um criticismo.
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Anexo – O senhor falará sobre Literatura, Criação e Leitura no 2º Encontro Catarinense de Escritores, neste sábado. Como será sua palestra?
José Fernandes – Eu vou pegar um texto, mostrar como o autor o criou ae como o leitor tem que fazer com aquele texto para se aproximar da intenção que o autor tinha ao botar determinados artifícios dentro dele, para desafiar o leitor, para gozar do leitor ou até para, de certa maneira, menosprezar o leitor. (risos)
Anexo – Ler também é uma arte, ela também precisa ser exercitada, então?
José Fernandes – O bom leitor é aquele que vai acrescentar alguma coisa que o autor propôs. Se o leitor não descobrir a intenção através destes artifícios, ele não enriquece o texto do autor. É o que eu faço, por exemplo, nas críticas que eu faço sobre determinados autores. Há críticas sobre Cora Coralina, Gilberto Mendonça Telles, Haroldo de Campos. São poetas brasileiros que todo mundo conhece, de alguma maneira, e que precisam ser estudados para serem compreendidos. O que me inspirou, por exemplo, a escrever sobre Coralina foi uma jornalista de Goiás que chegou me dizendo que eu devia escrever sobre ela, mas arrasando com ela, que a poesia dela não valia nada. Eu falei a ela que devia estar louca. Cora Coralina, como Machado de Assis, dava nó em pingo d’água, e gozava do leitor. Exatamente pelo fato de ela escrever de forma aparentemente simples, mas que, lá no fundo, está o nó na gota d’água que o leitor deve descobrir. A leitura é a inversão do nó na gota.
Anexo – Seu trabalho mais recente é o livro sobre o trabalho do escritor joinvilense David Gonçalves. Como surgiu o conhecimento da obre e porque fazer um livro sobre ele?
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José Fernandes – Conheci o David em 1975 – ele era jovem e eu também não era tão velho -quando fizemos mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina. Sempre acompanhei o trabalho de David e admirei sua capacidade de criar. Você conhece o conto dele chamado Adorável Margarida? Margarida era uma cadela que vivia na casa de praia dele. Ele pegou a cachorrinha e transformou em uma heroína. Havia um pedreiro lá que morava perto da casa e um dia chegou lá e disse assim: esse David é mentiroso! Na capacidade dele de ler, ele achava que aquilo tudo era só mentira. A criação é isso: pegar uma coisa que parece impossível e transformar. Esse aspecto na obra de David, tanto nos contos quanto nos romances, sempre foi motivo de admiração e, evidentemente, também é motivo de estudos.
PROGRAMAÇÃO
Sexta
18h30: abertura
19h30: palestra com o jornalista e escritor Paulo Markun sobre mídia e literatura
Sábado
8h: abertura
9h: palestra Literatura, Criação e Leitura, com José Fernandes
10h45: conversa com Celestino Sachet sobre a literatura contemporânea catarinense
13h20: palestra Sensini: Agruras e Dificuldades do Mercado Editorial Brasileiro e Catarinense, com Carlos Henrique Schroeder
15h: painel Como Driblar as Pedras na Literatura, com Sueli Brandão (diretora do Instituto da Cultura e Educação e criadora da Feira do Livro de Joinville e de outras cidades), David Gonçalves (escritor e presidente da Associação Confraria das Letras), José Fernandes (escritor, professor e doutor em literatura) e Jura Arruda (escritor e teatrólogo)
16h: sarau literário com o músico Ananias Almeida
Agende-se
O quê: 2º Encontro Catarinense de Escritores da Associação Confraria das Letras
Quando: sexta-feira, a partir das 18h, e sábado, das 8h às 18h
Onde: Auditório do Bom Jesus/Ielusc (Rua Princesa Isabel, 438, Centro, Joinville)
Quanto: inscrições a R$ 40 (com desconto para estudantes e grupos) pelo e-mail associacaoconfrariadasletras@outlook.com ou pelo site sympla.com.br
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