*Por Cecilia Kang, Davey Alba e Adam Satariano

Washington – No fim de janeiro, quando a China bloqueou algumas províncias para conter a propagação do coronavírus, a velocidade média da internet no país diminuiu, pois as pessoas que estavam presas em casa ficavam mais on-line e entupiam as redes. Na província de Hubei, o epicentro das infecções, a velocidade da banda larga móvel caiu mais que a metade.

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Em meados de fevereiro, quando o vírus atingiu a Itália, a Alemanha e a Espanha, a velocidade da internet nesses países também começou a decair.

E, no fim de março, com uma onda de pedidos de entregas espalhada pelos Estados Unidos, o tempo médio que levava para baixar vídeos, e-mails e documentos aumentou à medida que as velocidades de banda larga diminuíram 4,9 por cento em relação à semana anterior, de acordo com o Ookla, um serviço de teste de velocidade de banda larga. As velocidades medianas de download caíram 38 por cento em San Jose, na Califórnia, e 24 por cento em Nova York, de acordo com o Broadband Now, um site de pesquisa de banda larga comercial.

Quarentenas em todo o mundo tornaram as pessoas mais dependentes da internet para se comunicar, trabalhar, aprender e se divertir. Mas, como o uso do YouTube, da Netflix, do serviço de videoconferência Zoom, das chamadas pelo Facebook e dos videogames atingiu novos patamares, o estresse na infraestrutura da internet está começando a aparecer na Europa e nos Estados Unidos – e o tráfego provavelmente está longe de seu pico.

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"Isso é totalmente sem precedentes. Temos de ser proativos", disse Thierry Breton, comissário da União Europeia que supervisiona a política digital e foi executivo-chefe da France Télécom.

Para evitar problemas, reguladores europeus como Breton têm pressionado empresas de streaming como a Netflix e o YouTube a reduzir o tamanho de seus arquivos de vídeo para que não ocupem tanta largura de banda. Nos Estados Unidos, os reguladores deram às operadoras sem fio acesso a mais espectros para reforçar a capacidade de suas redes.

Algumas empresas de tecnologia responderam ao pedido para facilitar o tráfego na internet. O YouTube, que pertence ao Google, disse esta semana que reduziria a qualidade de seus vídeos de alta definição para definição padrão em todo o mundo. A Disney adiou o início de seu serviço de streaming Disney Plus na França por duas semanas, e o Xbox da Microsoft pediu às empresas de jogos que introduzissem atualizações on-line e novos lançamentos apenas em determinados momentos para evitar congestionamentos na rede.

"Realmente, não sabemos por quanto tempo ficaremos assim", afirmou Dave Temkin, vice-presidente de infraestrutura de redes e sistemas da Netflix, em um webinar sobre como o coronavírus pode afetar a infraestrutura da internet.

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Provedores de serviços de internet como Comcast, Vodafone, Verizon e Telefónica vêm construindo suas redes há anos para responder ao aumento da demanda. Mas autoridades das empresas disseram que nunca tinham visto um aumento tão forte e repentino. O crescimento que a indústria esperava em um ano está acontecendo no espaço de dias, explicou Enrique Blanco, diretor de tecnologia da Telefónica, empresa espanhola de telecomunicações.

"Em apenas dois dias, tivemos um aumento de tráfego que tínhamos planejado para todo o ano de 2020", disse Blanco.

O tráfego nas redes da AT&T aumentou 27 por cento em relação ao mesmo dia do mês passado, e a Verizon experimentou um aumento de 22 por cento no tráfego em seu serviço de banda larga sem fio e por fibra. As chamadas Wi-Fi tiveram seu volume normal dobrado, relataram as operadoras.

Na Europa, o tráfego residencial de internet por linhas fixas aumentou mais de 30 por cento, de acordo com a Telefónica. Atividades como jogos on-line e videoconferência mais que dobraram, enquanto mensagens pelo WhatsApp chegaram a quadruplicar.

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Tanto tráfego e estresse nas redes reduziram a velocidade de download de páginas e aplicativos, de acordo com a Ookla.

"O congestionamento está maior. Estamos todos em casa e as atividades que fazemos neste período sem precedentes não são as que utilizam baixa largura de banda, o que significa muita atividade em uma rede", comentou Adriane Blum, porta-voz da Ookla.

A Cisco informou que a demanda por seu serviço de teleconferência WebEx seguiu a propagação do coronavírus. A demanda aumentou primeiro na Ásia, depois na Europa, e na semana passada subiu 240 por cento nos Estados Unidos. A demanda aumentou as taxas de falha em videoconferências, disse Sri Srinivasan, vice-presidente sênior da Cisco responsável pelo WebEx. "Não sei se em breve veremos um pico, não nas próximas semanas. A razão pela qual digo isso é porque não estamos vendo o tráfego na Ásia diminuir mesmo agora."

Para evitar redes entupidas, a Europa tomou medidas mais agressivas.

Breton, o comissário da UE, discutiu a redução dos bitstreams de vídeos com Reed Hastings, o executivo-chefe da Netflix, Sundar Pichai, o executivo-chefe do Google, e Susan Wojcicki, chefe do YouTube. As empresas concordaram, o mesmo acontecendo com a Amazon em seu serviço de streaming Prime Video e o Twitch, sua plataforma de jogos on-line.

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Muitas das empresas foram mais longe. A Netflix decidiu mudar seus vídeos de alta definição na Índia, Austrália e América Latina para uma qualidade ligeiramente menor para reduzir o tráfego em 25 por cento, e o YouTube disse que reduziria seu streaming global para a definição padrão.

"Continuamos trabalhando em estreita colaboração com governos e operadoras de rede em todo o mundo para fazer nossa parte e minimizar o estresse no sistema durante esta situação sem precedentes", declarou o YouTube em comunicado.

Embora os reguladores dos EUA tenham dito que não planejavam seguir a Europa pedindo que as empresas de streaming e de mídia social alterassem seus serviços, eles estão tomando outras medidas. Na semana passada, a Comissão Federal de Comunicações (FCC) concedeu acesso temporário a mais ondas de rádio à Verizon, à AT&T e à T-Mobile.

"A FCC tem trabalhado estreitamente com as operadoras para garantir que essas redes permaneçam funcionando", disse em comunicado Ajit Pai, presidente da agência.

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