Dentre as pessoas que menos teriam suas caras indicadas como as mais parecidas com a cidade, talvez a dele fosse escolhida. Isso porque ele tem cara, corpo e alma de artista e Joinville ainda não alcançou o status de local cultural por excelência.

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Contrariando todos os rótulos – cidade do trabalho, polo industrial do Norte – foi aqui que a arte de Humberto Soares floresceu. O multiartista nasceu em Curitiba e há mais de dez anos mora em Joinville. Ele vinha apenas para visitar a irmã e já gostava do lugar, até que um dia decidiu ficar.

– Minha arte aflorou aqui. Eu desenhava desde menino e sempre sonhei viver da minha arte – diz ele, garantindo que o sonho tornou-se realidade em Joinville.

Hoje, o paranaense de 35 anos, que prefere o rio à praia, a floresta à cidade e a noite ao dia, mostra seu talento desenhando, dando aulas de história em quadrinhos, interpretando, contando histórias, maquiando e atuando como artista plástico.

Tudo isso ele aprendeu sozinho, é um autodidata que, no ano passado, decidiu fazer faculdade. Agora, Humberto estuda artes visuais e está preparando um projeto sobre um de seus assuntos preferidos: a importância das gibitecas nas escolas públicas da cidade.

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Para viver de sua arte – tarefa das mais difíceis – Humberto enfatiza as parcerias com outros artistas, como escritores e músicos. Ele tem livros publicados, um CD musicado e faz parte do grupo Pequeninus Produções Artísticas.

Seu personagem mais conhecido – e também mais antigo – é o Tatuí, um picolezeiro que tem o elemental do palmito, vende picolés de flores e conversa com uma aranha que mora dentro do seu boné.

– Esse personagem é da atriz Vera Seco, e como ela não mora mais aqui, peguei o Tatuí e o adaptei a mim.

Fazem sucesso com as crianças também o Aquarelo – um duende do lápis de cor -, e o Sr. Panapaná – o senhor das borboletas. Pela definição de cada personagem dá para perceber o quanto a natureza está presente na vida de Humberto e em sua obra.

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– Minha relação com a natureza é muito grande, e uma coisa que me deixa indignado é ver as pessoas jogarem lixo na rua.

Daquelas pessoas de fala mansa e até meio tímidas, Humberto deixa no seu interlocutor a sensação de ter acabado de conversar com alguém do bem, alguém que está em paz consigo mesmo e que alcançou seus objetivos mais importantes.

– Olha, estou muito feliz com o que consegui. Vivo da minha arte e sou admirado pela minha família – revela ele, que tem ficado até as cinco, seis horas da manhã trabalhando no seu primeiro livro sobre o Tatuí.

A obra será lançada em breve e, Humberto espera, será um marco em sua carreira.

– Estou esperando muita coisa para depois do lançamento, minha expectativa é grande.

Com a ajuda da irmã, que é costureira e confecciona seus figurinos; dos artistas e amigos, que integram seus projetos; e do público, que, mesmo sem saber, o ajuda mostrando sua reação aos personagens, Humberto segue apaixonado pelos símbolos da cidade – chuva, flores, moinho, palmeiras… -, pelo zoobotânico e pelo que ela lhe deu de sobra: espaço para trabalhar.

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Quem quiser conferir as performances de Tatuí e companhia é só passar pelo O Sebo ou ficar atento aos trabalhos que o artista realiza pelas ruas joinvilenses.