Em 1938, a Guerra dos Mundos, um programa de radioteatro comandado por Orson Welles, irradiou uma fantástica invasão dos Estados Unidos por marcianos, desencadeando uma onda de pânico na Costa Leste. Pois agora a roda da desinformação está girando no mesmo eixo da Guerra dos Mundos: são tantas as notícias falsas que se espalham pelas redes sociais, em particular o popularíssimo Facebook, que em determinados momentos seria apropriado rebatizá-lo de Fakebook (Livro de Falsidades, em uma tradução livre).
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A diferença em relação ao involuntário caos de 1938 é que a intenção das fábricas de notícias falsas é exatamente gerar confusão e torturar fatos para favorecer causas e ideologias, criar indignação e, como consequência, obter vantagens políticas ou econômicas a partir da desinformação.
Voltamos no tempo, só que em escala digital, em ritmo instantâneo e concepção industrial para produzir o máximo de dano a adversários.
Para atingir seus objetivos, a tática da desinformação se vale da força dos compartilhamentos: uma notícia repartida por um parente ou amigo de confiança vem naturalmente embalada pela credibilidade de quem a distribui, reforçando a suposta veracidade de uma narrativa, mesmo que inteiramente fantasiosa.
É em razão do maremoto de falsidades, cuja graduação vai de distorções parciais a absurdos completos, que está havendo um renascimento do jornalismo profissional, entendido como aquele exercido de forma independente, distante do ativismo de diferentes espectros que mutila a realidade sem remorsos.
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O jornalismo que se organiza em redações profissionais e é regido por códigos de ética e conduta não é perfeito. Mas só o fato de reconhecer sua imperfeição e corrigir-se sistematicamente mostra que uma comunicação séria e de qualidade é a derradeira boia de salvação no oceano de embustes no qual naufraga a realidade como ela de fato é.
*Marcelo Rech é presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ)
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