Santa Catarina vive uma crise na saúde com aumento dos atendimentos hospitalares e filas de espera por leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Situação que, segundo o professor de pediatria da UFSC e coordenador do módulo de doenças respiratórias na infância, Luiz Cutolo, é inédita em Florianópolis. 

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Ele atuou até o mês passado no Hospital Infantil Joana de Gusmão e garente que a demanda nunca foi tão alta. A percepção do médico é corroborada com os dados: o número de atendimentos na instituição dobrou em uma semana.

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— Em dezembro, eu faço 39 anos de exercício da Medicina e nunca vi uma situação como essa antes. Nós estamos em uma crise, existe uma crise sim, mas precisa ser contextualizado. Durante a pandemia, as crianças ficaram isoladas e não passaram pela experiência das infecções virais que normalmente, classicamente, teriam. Quando as crianças voltaram a serem expostas, esses vírus vieram com carga total. Vieram em crianças que não tinham ainda uma memória de defesa, portanto não estavam preparadas para o número de infecções virais que estavam acontecendo — explica Luiz Cutolo.   

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Segundo o coordenador do módulo de doenças respiratórias na infância, casos de doenças respiratórias identificados na Austrália serviram como parâmetro para médicos brasileiros projetarem a crise que viria.

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— Existia uma projeção de que isso pudesse acontecer em janeiro porque, em dezembro do ano anterior, uma epidemia de infecções virais apareceu na Austrália, e a Austrália passa pelas mesmas estações de ano que nós no Brasil. Quando surgiram os primeiros relatos disso, nós conversamos com os colegas no hospital e falamos: “Vai chegar no Brasil”. Chegou com dois meses de atraso, mas chegou, e naquele momento já se alertava quanto à possibilidade de um outono-inverno caótico. Alguma coisa de planejamento deveria ter sido feita em janeiro. Então, teve uma resposta atrasada em relação a provável epidemia que aconteceria no outono-inverno. Já se previa essa possibilidade e a resposta teria de ser imediata para planejamento de médio prazo — pontua o professor.

De acordo com Luiz Cutolo, possíveis mudanças no padrão dos vírus também podem ser consideradas para o aumento dos casos. Segundo o professor, alterações em casos de bronquiolite, por exemplo, já são objetos de estudo em alguns países.

Governo anuncia novos leitos

Para amenizar a crise, o governo de Santa Catarina anunciou, na quarta-feira (13), novas ações para o Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, e para o Hospital Materno Infantil Santa Catarina, em Criciúma. A SES informou ainda que foram criados, em pouco mais de um mês, 60 leitos neonatais e pediátricos.

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Na sexta-feira (15), novas vagas também foram confirmadas pelo governo: 122 leitos de UTI e retaguarda para o atendimento infantil no Joana de Gusmão. Além da suspensão de férias e licenças de equipes do hospital. 

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