Com tantos mocinhos no currículo, Cauã Reymond está em busca de outros perfis de personagens para interpretar. Em Justiça, minissérie que estreia dia 22 de agosto, depois de Velho Chico, na Globo, o ator viverá o contador Maurício. Na trama de Manuela Dias, ele pratica eutanásia na esposa, Beatriz (Marjorie Estiano), a pedido dela, após a bailarina ser atropelada e ficar tetraplégica.
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Antes da estreia, minissérie “Justiça”, da Globo, terá capítulos iniciais divulgados na internet
O novo papel exige que Cauã apareça envelhecido, com cabelos brancos, bem diferente do último trabalho do ator na televisão, o Juliano de A Regra do Jogo. Embora não se incomode com o rótulo de galã, Cauã não esconde o desejo de explorar outras facetas e se mostra entusiasmado por viver um homem mais velho.
Na entrevista a seguir, o carioca de 36 anos conta como é o personagem, discorre sobre eutanásia e outros assuntos levantados pela minissérie e confessa que se tornou mais compreensivo com a idade. “Não sou um cara vingativo. Pelo contrário, acho que, com o passar dos anos, você vai relevando mais e também compreendendo como é que as coisas acontecem. Olho cada vez mais o ponto de vista do outro”, admite.
Como é o seu personagem em Justiça?
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O Maurício é um contador. Estou realmente empolgado em fazer este personagem. Eu já tenho um pouco de cabelo branco, mas eles deixaram os fios bem grisalhos. Acho que me dá uma envelhecida e é interessante pra mim enquanto ator, pois enriquece o meu trabalho. Além disso, abordo um assunto delicado que é a eutanásia. Realmente, me chamou a atenção poder falar sobre isso.
O que o levou a aceitar o convite para fazer a minissérie?
Primeiro, estou muito orgulhoso. Sei que a gente sempre fala isso, parece um pouco clichê, mas é uma trama em que o personagem foge do meu biotipo. Quando surgiu o convite para trabalhar de novo com o Zé (José Luiz Villamarim, diretor), com quem eu já tinha trabalhado em Avenida Brasil e em Amores Roubados, aceitei. Logo depois da novela, estava muito cansado, mas achei que poderia ser uma reciclagem.
O que você acha do formato da série de cada dia contar uma história diferente?
De certa forma, eu me sinto orgulhoso por inaugurar um novo formato. Principalmente na dramaturgia brasileira, em que uma série reúne vários protagonistas e, a cada dia, você tem o seu protagonista e a sua história. A minha é a de sexta-feira, espero que todos assistam.
Na minissérie, o Maurício faz eutanásia na esposa, a pedido dela. Você já se imaginou na posição do seu personagem?
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É tão delicado isso. Quando dei minha primeira entrevista sobre o assunto, em Recife, não sabia direito o que falar. Ao longo das filmagens, fui entendendo um pouco mais como era esse cara, porque não tem uma preparação para uma situação assim. Então, não me imagino. Eu acho tão dolorido o que ele passa. Em alguns dias fui pra casa pensando, tentando me colocar no lugar dele. Imagino que a maior dificuldade é não ter a pessoa que você mais ama na vida. Você ser culpado por isso e a sensação absurda de vingança, uma vez que não existe mais motivo para estar vivo, se não for para se vingar…
E você é vingativo?
Não sou um cara vingativo. Pelo contrário, acho que, com o passar dos anos, você vai relevando mais e também compreendendo como é que as coisas acontecem. Olho cada vez mais o ponto de vista do outro. Isso é tão bonito. É tão bom. Isso traz uma paz que quando você é mais jovem, às vezes, não tem.
Ao longo da sua carreira, você colecionou papeis como galã. O último foi o Juliano de A Regra do Jogo. Está cansado desse tipo de personagem?
Acho que não tem a ver com cansar. Nunca me senti assim. Eu fiz personagens tão interessantes nos últimos anos dentro e fora da tevê. Acho que o meu trabalho como produtor de cinema também está cada vez mais forte. E, provavelmente, a gente deve filmar Dom Pedro I, da Laís Bodanzky, no segundo semestre do ano que vem. Então, não vejo o meu ofício preso a isso somente. É um fator que agrega. A imagem de bonitão não me incomoda, não. Se a minha filha fala que eu estou bonito, está bom (risos).
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Então você nunca pensou em ser galã?
Nunca pensei em ser o bonitão. Sempre pensei na saúde. Vejo o meu pai que é saudável, não toma remédio para a pressão. Eu acho tão bonito a forma como o meu pai está lidando com a chegada dos anos e tem tanto homem grisalho charmoso. Eu vejo isso como um lugar diferente do ofício mesmo. Tanto posso retornar e fazer um cara mais jovem como em A Regra do Jogo, mas também posso ir um pouco à frente e fazer um cara mais velho. Estou em uma posição favorável como ator. Eu estou interessado em jogar mais pra frente, em fazer personagens que têm uma densidade dramática, que têm mais a ver com a idade. O meu biotipo me proporciona isso.