Se para a grande maioria da população de Joinville, o inverno preocupa por causa do rigor do frio em alguns dias, para cerca de 700 pessoas que vivem nas ruas, ele representa um desafio ainda maior: encontrar um abrigo para pernoitar e suportar as baixas temperaturas, às vezes, menor do que 5 ºC.

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“Se não tomarmos uma medida drástica agora, não saberemos se não vamos ter uma cracolândia joinvilense”, diz secretário de assistência social

“Eu contava com o apoio da família, mas agora eles me querem bem longe”, diz homem que vive há dois anos na rua em Joinville

Joinville oferecerá abrigo a pessoas em situação de rua

Segundo levantamento da Secretaria Municipal de Assistência Social, muitos desses moradores acomodam-se embaixo de marquises de prédios localizados no Centro da cidade. Na semana passada, a Prefeitura abriu uma peça dentro do Ginásio de Esportes Abel Schülz, ao lado da praça da Bandeira, para acolher as pessoas em situação de rua em dias com temperaturas abaixo dos 10ºC. O atendimento começou com 18 vagas, mas no início desta semana, mais de 30 utilizavam os colchões, travesseiros e cobertores disponibilizados no local, que teve a capacidade ampliada para 43 lugares.

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Para dormir no local, os interessados devem procurar o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), ao lado da rodoviária de Joinville. Lá, os moradores de rua recebem uma refeição (jantar), podem tomar banho e depois são levadas em uma Kombi até o Ginásio Abel Schulz, onde permanecem das 21h até as 6h. As pessoas ficam acomodadas debaixo das arquibancadas e nas áreas próximas à quadra de esportes. Conforme a Prefeitura, o Abel Schülz funcionará como abrigo até o mês de setembro.

O objetivo é atingir, principalmente, as pessoas que ficam abrigadas sob a marquise do Bradesco, na esquina das ruas Dona Francisca e 15 de Novembro, no Centro. O número de pessoas que permaneciam no local para se abrigar vinha crescendo muito, o que chamou a atenção dos joinvilenses. A situação deu início a uma discussão na cidade, especialmente pelas redes sociais.

Em reunião com a Secretaria de Assistência Social, a agência bancária decidiu colocar grades no espaço no período da noite para evitar a permanência de moradores de rua, e isso deve acontecer pelos próximos 45 dias. Durante o dia, a Prefeitura prometeu ocupar o espaço com atividades e apresentações culturais, artesanatos e feiras de produtos orgânicos.

– Fomos conversar com os gerentes (do banco), que concordaram com a ideia. Em contrapartida, estamos ofertando um lugar para essas pessoas em situação de rua dormirem porque não queremos transferi-las para outros locais – explica o secretário de Assistência Social, Vagner Ferreira de Oliveira.

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Segundo ele, conversas foram feitas com os moradores em situação de rua que ficam no espaço durante uma semana, sempre à noite, entre as 20h e 21h. O que se constatou, diz o secretário, é que os próprios moradores se identificam por grupos. Alguns deles são chamados de “noias” porque têm aparentes problemas mentais e vivem há mais de cinco anos nas ruas. Vagner ressalta que esses moradores dificilmente sairão das ruas porque esqueceram de suas histórias de vida ou perderam familiares que poderiam ajudar a encontrá-los.

Há também os chamados “malabares” e pessoas de outros países que estão de passagem por Joinville. De acordo com Vagner, essas pessoas param na cidade porque o município tem programas sociais que não são encontrados em outros lugares. Além disso, municípios vizinhos encaminham essas pessoas para Joinville.

– Nós estamos verificando que muitas dessas pessoas têm famílias e casas. A grande maioria não é de Joinville, cerca de 80% são de outros municípios e Estados – diz o secretário, a partir de uma estimativa da secretaria.

De acordo com ele, a ideia é fazer um grande levantamento em 15 dias, a partir do trabalho de cerca de 150 profissionais que vão às ruas para coletar informações sobre os moradores em situação de rua na cidade. Vagner estima ainda que, nos últimos três meses, houve um aumento de quase três vezes do número de pessoas nas ruas de Joinville.

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