Andar de ônibus em Joinville deixou de ser uma opção para 18% dos usuários nos últimos dez anos. Levando em conta os dados das empresas responsáveis pelo transporte coletivo, Gidion e Transtusa, o número de passageiros equivalentes reduziu em aproximadamente 8 milhões. O levantamento leva em consideração as passagens pagas e desconsidera as gratuidades.

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Os números mostram que, durante o ano de 2002, mais de 45 milhões de passageiros circularam pelas linhas do transporte coletivo na cidade. Na época, esse número representava 27,21% da população joinvilense. Dez anos depois, em 2013, o número de passageiros caiu para pouco mais de 37 milhões, ou seja, 18,56% da população.

Para o diretor do Instituto de Planejamento de Joinville (Ippuj), Vladimir Constante, a redução de passageiros não está relacionada apenas à facilidade em se comprar um automóvel, mas é um reflexo da queda no desempenho do serviço. Até houve investimento em frota e linhas, mas o serviço ficou mais lento.

Quando os terminais urbanos integrados foram criados, em meados da década de 1990, o transporte público se tornou uma facilidade para os usuários, que passaram a pagar apenas uma passagem para circular por todos os terminais. Mas, naquela época, o trânsito ainda não estava tão caótico, então, a integração funcionava.

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Hoje, o crescimento da frota de veículos inflou as ruas da cidade e fez com que o serviço ficasse mais lento. Por isso, explica Vladimir, o ônibus não é mais tão atrativo aos olhos dos usuários. Pois, além de demorado, ficou mais difícil de conciliar os horários entre uma linha e outra.

– Se eu tivesse a mesma velocidade no sistema que eu tinha no início da década passada, aí sim teria dado qualidade de verdade (ao serviço). Hoje eu tenho mais ônibus, mais linhas e não tenho mais conforto por causa da velocidade – avaliou.

Há dez anos, o ônibus circulava com velocidade média de 25 km/h. Hoje, essa velocidade caiu para 17 km/h e chega até a 9 km/h nas troncais.

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Este foi o motivo pelo qual a produtora de vendas Aline Aparecida Vital, de 29 anos, trocou o ônibus pela motocicleta. Ela comprou a primeira moto há dois anos e, recentemente, trocou a usada por outra zero quilômetro. Quando utilizava o transporte coletivo, ela precisava pegar três ônibus para ir da zona Sul à Norte.

– Demorava uma hora e meia, isso quando pegava um ônibus atrás do outro. Se perdia, tinha que esperar. Sem contar que passava mal porque estava sempre lotado – observou.

Agora, a produtora de vendas faz o mesmo trajeto em menos de 30 minutos.

De acordo com o gerente da loja onde Aline comprou a moto, Vilmar de Santi, as prestações para comprar o veículo são atraentes. A compra planejada permite que o cliente pague apenas R$ 76 pela parcela. A rede de cinco lojas vende uma média de 500 motocicletas por mês.

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Planejamento para tornar o transporte público atrativo

Para reverter essa situação e tornar o ônibus um transporte mais atrativo, a Prefeitura promete melhorar a velocidade, ampliando de 14 para 55 quilômetros de faixa exclusiva.

– Para melhorar isso precisa ter espaço para o ônibus rodar. Não existe outra forma que não seja dando uma faixa exclusiva pra ele – destacou o diretor do Ippuj.

Além de refazer as faixas que estão deterioradas, como nas ruas Doutor João Colin, Blumenau, São Paulo e Santa Catarina, outras ruas importantes que ligam os bairros ao Centro devem ser contempladas.

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Dentre elas estão a Procópio Gomes, Urussanga, Guanabara, Monsenhor Gercino, Florianópolis, Albano Schmidt e Helmut Fallgatter. Na Beira-rio, haverá um corredor segregado (nas duas faixas próximas ao rio) e, na Santos Dumont, as obras de duplicação contemplam um corredor de ônibus central. Alguns editais serão abertos ainda este ano. Numa boa perspectiva, as obras devem começar no próximo ano. O investimento deve chegar a R$ 1 milhão.

Dentro deste plano de ação a curto prazo, a Prefeitura pretende investir mais R$ 2,5 milhões em novos abrigos de ônibus. Informação de linhas e horários de ônibus por meio de folhetos e aplicativos para celular é outra preocupação.

Integrar a bicicleta com o ônibus por meio de bicicletários monitorados em todos os terminais é mais uma alternativa que está dentro do planejamento.

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Outras medidas podem surgir com o plano de mobilidade que está em fase de consulta pública. De acordo com Vladimir Constante, é preciso encontrar novas fontes de receita para subsidiar o transporte coletivo, pois não é possível mais sustentar o sistema apenas com o valor das passagens.

Facilidade de crédito contribuiu para a redução de passageiros

A facilidade de crédito com os incentivos do governo após a crise na economia mundial entre 2009 e 2010 alavancou a venda de automóveis no País. Esse crescimento tem ocorrido nos últimos quatro anos conforme avalia o professor de economia Fabiano Dantas.

Somando os incentivos às empresas, que permitiu manter o preço dos automóveis em um certo patamar, e o aumento na renda do brasileiro, comprar o carro próprio ficou ainda mais acessível. O reflexo disso está no crescimento anual da frota e na consequente redução de passageiros dentro dos ônibus.

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Confira os números: