Batendo de porta em porta, perguntando aos vizinhos e subindo a pé os morros mais íngremes. Dona Maria*, 58 anos, lembra bem a angústia que sentiu quando saiu pelas ruas de Camboriú de madrugada procurando pela neta de 13 anos pela primeira vez.
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Depois dessa foram outras incontáveis buscas até a gota d’água, quando a menina passou 20 dias sem aparecer em casa. A mesma história vem se repetindo em diferentes lares da cidade com um perfil bastante particular de protagonista, garotas entre 13 e 17 anos que começaram a usar drogas com os amigos e se viram dominadas pelo vício.
Somente neste ano, o Núcleo de Combate às Drogas e à Pedofilia, da secretaria de Assistência Social de Camboriú, fez a internação de quatro meninas em comunidades terapêuticas para tratamento.
O número representa o dobro do registrado ano passado inteiro e já é maior também que o de 2012, quando houve três casos. Usuárias principalmente de cocaína, o total dessas adolescentes, em 2014, é também maior que o de meninos: apenas um.
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Os dados assustam especialistas por revelarem um aumento do número de meninas usuárias de drogas. Tradicionalmente esse ranking em várias cidades era liderado pelo sexo masculino.
– Os meninos normalmente são dependentes de crack e as meninas de cocaína, mas há algum tempo não se via tantos casos de meninas viciadas – explica o diretor do núcleo, Manoel Mafra.
Esse diagnóstico vem do acompanhamento feito pelo núcleo, que encaminha os adolescentes para programas e centros de tratamento. Apesar das estatísticas, não se sabe o que está causando uma maior incidência de garotas no consumo de drogas. Os pais culpam as más companhias.
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– Isso é coisa das amizades, das companhias. Agora ela só fala na gíria e nunca foi assim – comentou uma mãe que pedia ajuda ao núcleo para a internação compulsória da filha adolescente.
Aceitação
Das quatro internações feitas neste ano, apenas uma foi compulsória quando o usuário não vai por vontade própria e há a necessidade de medida judicial para garantir a internação. Esse quase foi o caso da neta de dona Maria, mas a adolescente acabou convencida a se internar. Depois de 20 dias fora de casa, ela foi no fim de janeiro pelos profissionais da entidade dormindo em um barraco.
A dona de casa, que cria a neta desde bebê, recorreu ao auxílio profissional pouco antes de perder as esperanças de encontrá-la. Na página no núcleo no Facebook, as fotos do local onde a menina foi encontrada, com marcas de machucados, provocaram espanto até em quem está acostumado à situação.
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Levada ao Conselho Tutelar, Lizandra* aceitou ser internada e há uma semana está em uma comunidade terapêutica. A avó tem saudades da pequena companheira que a ajudava nas tarefas domésticas, mas tem certeza de que a menina voltará para casa mudada:
– Antes de sumir ela ficava na rua, vinha para casa toda suja com roupas que não eram dela. Eu jogava tudo no lixo de tão imunda. Tenho certeza que ela vai voltar bem.
* Os nomes dos envolvidos foram alterados para preservar a identidade da vítima, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente.
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Números
Registros do Núcleo de Combate às Drogas e à Pedofilia de Camboriú:
Ano Meninos Meninas
2012 15 3
2013 14 2
2014 1 4