— Não faça fogo perto de vegetação, a probabilidade da situação sair do controle é muito grande. A previsão indica pouca chuva neste inverno, precisamos parar de fazer qualquer atividade com chamas.

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O alerta em tom de apelo é de quem está na linha de frente no combate aos incêndios florestais em Blumenau e região. Entre março e esta quinta-feira (28) foram atendidas 259 ocorrências deste tipo pelo 3° Batalhão de Bombeiros Militares em nove municípios do Vale do Itajaí, 95 delas apenas em Blumenau. Em comparação com o mesmo período do ano passado (de 1° de março a 31 de maio de 2019 e 1° de março a 28 de maio de 2020) o crescimento é de 681% em toda a região e 1.055% somente em Blumenau. Naquele trimestre foram 38 ocorrências, nove delas em Blumenau.

A seca histórica no estado tem sua parcela de culpa, já que sem chuva o fogo se alastra com mais facilidade e a baixa umidade contribui para a permanência dele no solo. Porém, o causador, 99% das vezes, é o ser humano, garante o capitão Filipe Daminelli, dono do pedido que abre esta reportagem. Na maioria dos casos não há intenção de prejudicar o meio ambiente, mas os descuidos e imprudências têm seu preço.

— É cansativo. Poderíamos estar envolvidos em outras atividades, mas precisamos gastar energia nesses combates, que normalmente levam horas — explica Daminelli.

Não só horas, como dias e semanas. Em Blumenau, há três incêndios sendo monitorados pela corporação, dois na região do Garcia e um na Velha Grande. São focos em locais de difícil acesso, como em topo de morros. Apenas um volume significativo de chuva conseguirá conter a fumaça que brota do solo, já que são incêndios subterrâneos, sob as folhas secas da mata. O Morro do Macaco, em Indaial, é um exemplo disso.

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O 3° Batalhão atende Blumenau, Gaspar, Brusque, Guabiruba, Botuverá, Timbó, Rio dos Cedros, Benedito Novo e Doutor Pedrinho. Em Blumenau, a quantidade de chamados nos primeiros cinco meses do ano passado saltou de 26 para 113 em comparação a este ano (434%). São pessoas que ateiam fogo em móveis, em vegetação para limpar o pasto, em lixo, ou que sobem os morros para caça, trilhas ou acampamentos e acabam utilizando o fogo. Desde ponta de cigarro a fogueira, em tempos de mata extremamente seca, tudo se transforma em combustível para uma atividade que pode rapidamente sair do controle.

— Eu chamo de ação indireta do ser humano porque não há a intenção de causar o incêndio. E muitas vezes não temos resultado ao tentar combater, dependemos da chuva. São focos que diminuem com o esfriamento noturno, por exemplo, mas nunca acabam — detalha o capitão.

Consequências irreversíveis

Na opinião de Daminelli o isolamento devido à pandemia do novo coronavírus pode estar contribuindo para este aumento. Com mais tempo nas residências, as pessoas costumam fazer limpezas – e queimar lixo. Além disso, há quem esteja procurando a floresta para, sem causar aglomeração, acampar e passar um tempo fora de casa sem se expor ao vírus. A atitude, no entanto, pode acabar com a moradia de outros seres.

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— Onde tem incêndio em ambiente natural, tem bicho silvestre morto. A maioria dos animais menos ágeis acaba morrendo. Podemos calcular milhares por hectare se considerarmos todos os tipos de bichos — lamenta o biólogo Lauro Bacca.

Outro ponto que Bacca destaca é que os topos de morros atuam como grandes caixas d’água para a população, absorvendo o líquido das chuvas e levando, lentamente, às nascentes. A vegetação queimada tem dificuldade para fazer esse “filtro” da água, prejudicando todo o ciclo descrito pelo ambientalista.

Defesa Civil pede prudência

A Defesa Civil de Blumenau listou medidas que devem ser adotadas para evitar os incêndios, que historicamente ocorrem neste período e que agora são agravados pela seca histórica no estado:

1 – Tenha cuidado com qualquer tipo de faísca que possa atuar sobre a vegetação ressecada;

2 – Não jogue bitucas de cigarro no chão e em locais que possuem vegetação seca;

3 – Não acenda fogueiras próximas à vegetação;

4 – Não queime móveis, lixo, folhagens, galhadas e entulhos;

5 – Realize roçadas nas áreas próximas da casa;

6 – Lembre-se: o incêndio acontece a partir de uma fonte de calor (raios, fogueiras, faíscas, cigarros, etc) que entra em contato com algum material combustível (grama seca, folhas, arbustos e pinhas). Esses materiais queimam rapidamente e necessitam de menos energia para alcançarem a combustão e, por estarem em local aberto, contam com o vento que espalha e aumenta o fogo.

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Incêndios em números (março a maio)

Foto tirada do Helicóptero Arcanjo
Foto tirada do Helicóptero Arcanjo (Foto: Bombeiros Militares, Divulgação)

3º BBM (Blumenau, Gaspar, Brusque, Guabiruba, Botuverá, Timbó, Rio dos Cedros, Benedito Novo e Doutor Pedrinho)

-2020: 259

-2019: 38

-2018: 77

-2017: 33

Apenas Blumenau

-2020: 95

-2019: 9

-2018: 37

-2017: 15