O número de homicídios em Santa Catarina subiu 68,7%, em 10 anos. De acordo com dados do Atlas da Violência, publicado nesta terça-feira (5), pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), o número de mortes violentas no Estado subiu de 632, em 2007, para 1.066, em 2017.

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O estudo feito pelo Ipea analisa os dados de mortes violentas ocorridos entre esses anos. No caso dos homicídios, os dados foram retirados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), produzido pelo Ministério da Saúde.

Os números, no entanto, divergem dos dados da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina. Conforme o boletim semanal de indicadores de violência, em 2017, foram registrados 987 homicídios no Estado.

A SSP-SC explica que a diferença nos números acontece por causa da metodologia usada nos dados do Ipea e dos que são apurados pela pasta. Nos números retirados do Ministério da Saúde, o instituto leva em consideração, além dos homicídios causados por criminosos, os casos envolvendo mortes promovidas por agentes públicos, como policiais, por exemplo, mesmo quando estão em serviço e os casos não são relacionados a crimes, mas legítima defesa.

Já a SSP-SC separa essas ocorrências envolvendo policiais e, por isso, tem números ligeiramente menores que os do estudo do Ipea.

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O aumento no número de mortes, no entanto, não está relacionado ao crescimento populacional. Isso porque os dados mostram que a taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes também subiu. Em 10 anos, o índice foi de 10,4 para 15,2, um aumento de 45,7%.

No Brasil, a mesma taxa subiu de 25,5 mortes a cada 100 mil pessoas para 31,6, um aumento de 24%, nos 10 anos analisados pelo estudo.

Vizinhos

Ainda que os números absolutos de violência no Paraná e no Rio Grande do Sul sejam maiores que os de Santa Catarina, os paranaenses experimentaram uma redução do número de homicídios. O estado vizinho conseguiu sair de uma realidade de 3.105 mortes em 2007, para 2.759, 10 anos depois, uma queda de 11,1%.

A queda no Paraná também foi observada no índice de mortes para cada 100 mil habitantes, que caiu de 29,5 para 24,4.

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Já no Rio Grande do Sul, os índices de violência seguiram aumentando, até mais do que em Santa Catarina, conforme o Ipea. Em 2007, foram registrados 2.199 homicídios. Uma década depois, o estado contabilizava 3.316 mortes, um aumento de 50,8%. No mesmo período, o índice de mortes a cada 100 mil habitantes subiu de 19,8 para 29,3.

Mortes de jovens

O estudo também analisou o perfil das vítimas e mostrou que o número de jovens mortos, que tinham entre e 15 e 29 anos de idade, representaram mais da metade dos homicídios registrados no Brasil. Em 2017, das 65.602 vítimas, 35.783 estavam nessa faixa etária.

"Nesse ponto, é fundamental que se façam investimentos na juventude, por meio de políticas focalizadas nos territórios mais vulneráveis socioeconomicamente, de modo a garantir condições de desenvolvimento infanto-juvenil, acesso à educação, cultura e esportes, além de mecanismos para facilitar o ingresso do jovem no mercado de trabalho", diz trecho do estudo.

Em Santa Catarina, em 2017, para cada grupo de 100 mil pessoas, 30,2, nessa faixa etária, foram vítimas de homicídio. O número é o segundo menor do Brasil, atrás apenas de São Paulo, cujo índice ficou em 18,2 mortes. No Brasil, a média é de 69,9.

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De toda forma, há um alerta em Santa Catarina. Ainda que o índice seja baixo, ele teve uma alta de 51,7%, em 10 anos. Em 2017, para cada grupo de 100 mil pessoas, 19,9 foram vítimas de homicídios.

Em números absolutos, o Estado apresentou uma alta ainda maior, saindo de 328 vítimas jovens em 2007 para 527, depois de uma década. O aumento equivale a 60,7% nesse período.

SC segue tendência nacional, diz especialista

Para o professor Giovani de Paula, coordenador do Programa de Especialização em Segurança da Universidade de Santa Catarina (Unisul), em uma análise preliminar, é possível perceber que o Estado segue uma tendência nacional de aumento da violência.

— Os fatores que contribuem para esse fenômeno são múltiplos, podendo se destacar o déficit de cidadania, a falta de sustentabilidade social, questões estruturais do Estado no atendimento a pessoas e comunidades em condição de vulnerabilidade social, a crise e as condições do sistema penitenciário, as drogas, que acabam criando condições favoráveis para as expressões de violência, criminalização e crescimento do crime dito "organizado", que atinge principalmente a população jovem e pobre — avalia.

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Outro lado

A Polícia Militar informou que, nos últimos dois anos, ou seja, fora do período de abrangência do levantamento da pesquisa do Ipea, os índices de homicídio estão reduzindo no Estado. Isso se deve ao aumento das ações e operações policiais.

"A tendência é de diminuição, como mostram os últimos números, pois a cada mês, devido a intensidade das ações e operações policiais, os números diminuem, aumentando a segurança para os cidadãos de SC", diz a PM.