A violência em Joinville deu um salto nos últimos dez anos. Entre 2008 e o final de 2012, foram 406 homicídios. A média é de 81,2 vidas perdidas a cada ano, segundo dados da Saúde do Estado e levantamento feito por “AN”.
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Nos cinco anos anteriores, considerando os anos de 2003 a 2007, a média anual era de 51,6 mortes, com 258 homicídios. Os números mostram que média de assassinatos cresceu 57,3% nos últimos cinco anos.
Joinville cresceu em população, mas só a expansão da cidade não explica os números nos últimos anos. Isso porque o índice de mortes para cada grupo de 100 mil habitantes passou de 11,46 para 15,76 na segunda metade da década.
O cálculo proporcional considera o município com 450 mil pessoas no primeiro período e com 500 mil no segundo período. A soma chega a 652 casos de morte violenta nos últimos dez anos – representa metade da população da região da Vila Cubatão, por exemplo, na zona Norte de Joinville. E é com tiro que a maioria das execuções acontece.
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A cada três assassinatos, pelo menos dois são provocados por arma de fogo. Essa é uma realidade que se manteve nos últimos dez anos. Menos de um terço das vítimas sequer teve a chance de receber socorro no hospital, de acordo com dados da saúde estadual.
Os números também revelam o perfil jovem de quem perde a vida. Mais de um terço tinha entre 20 e 29 anos de idade. A proporção de mortes nessa faixa etária ainda cresceu 5,5% nos últimos cinco anos. Homens continuam como maioria absoluta entre as vítimas: a cada dez assassinatos, um é contra mulheres.
Combater os crimes contra a vida, diz o delegado regional Dirceu Silveira Júnior, é uma prioridade na Polícia Civil. Ele destaca que, até o começo da década passada, a cidade contava com apenas seis delegacias. Hoje, há dez unidades e divisões especializadas.
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– Buscamos eliminar os focos onde aumentam as ocorrências. É por isso que temos a DIC (Divisão de Investigação Criminal) e a Divisão de Repreensão a Entorpecentes. A droga e os assassinatos são conexos -, avalia.
Migração
O mapa das mortes também passou por mudanças na última década em Joinville. Apuração feita por “AN” aponta o bairro Paranaguamirim na liderança do ranking de assassinatos, com 13 dos 72 casos de 2012.
É mais do que o dobro do Jardim Paraíso, segundo colocado na lista, com seis mortes. A violência se concentra no Paranaguamirim desde 2009. De lá para cá, houve 42 homicídios na região.
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Nos anos anteriores, o bairro considerado mais violento era o Jardim Paraíso. Lá, ocorreram 15 assassinatos somente no ano de 2008. A mudança de cenário, na opinião do delegado Dirceu Silveira Júnior, não se deu apenas pela presença policial mais intensa no Paraíso.
– Ações de repressão e prevenção, mas também da municipalidade, como iluminação e revitalização de áreas, melhoraram sensivelmente a realidade -, observa.


EDUARDO LUIZ DO VALLES
Tenente-coronel do 8º Batalhão da PM (zona Norte e Centro)
Papel
– O papel da Polícia Militar no combate aos homicídios é pequeno. Prevenimos com repressão. Muitas vezes, somos acionados quando a pessoa já está morta, quando encontram o corpo. Quem pode fazer a verdadeira prevenção é o Estado. Somos parte de um círculo da Segurança Pública. Em primeiro lugar, vem a família, com valores. Depois, temos o Executivo, a conjuntura econômica, aspectos legais, polícias, Judiciário, sistema penal e ressocialização. A ressocialização do indivíduo é mínima. Isso vai construindo a violência -.
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Perfil
– São as amizades e a convivência que levam a pessoa para o caminho do crime. 90% das vítimas têm relação com a droga. São jovens que deviam dinheiro e pagaram com a vida. Ou que interferiram em outro território do tráfico e também morreram. Praticamente não temos latrocínio (roubo seguido de morte). Em geral, não temos pessoas de bem sendo mortas -.
Presença
– A presença policial previne o crime no local, mas o bandido vai agir em outro lugar. Ocorre uma migração. Se o cidadão está disposto a sair de casa para roubar um carro e encontra a polícia, ele vai até outro lugar para roubar. Então, buscar uma resposta para o crime de homicídio é uma situação delicada -.
JOÃO MARCOS BUCH
Juiz da Vara de Execução Penal
População
– O crescimento populacional e a expansão desordenada da cidade têm relação direta com os homicídios. Essa expansão criou concentrações de pobreza, bolsões de saúde, de trabalho, de acesso aos meios oficiais. O tráfico de drogas também ocasionou a ascensão do jovem como um mantenedor da família, que busca a renda por meio do tráfico -.
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Jovens
– A maioria é homem e jovem. O tráfico de drogas é a forma que eles encontram de buscar a ascensão fora dos meios oficiais. É por isso que há tanta morte envolvendo jovens. Ou ele larga o tráfico e encontra outro meio de vida ou acaba morrendo. Também chama a atenção o ingresso da mulher no meio do tráfico. Muitas vezes, ela assume a situação quando o companheiro deixa de ter o controle após ser preso, por exemplo -.
Estabilização
– Acredito que esses números podem estabilizar. Não posso fazer futurologia, mas não acredito que haverá mais picos nos próximos anos. A estabilização dos crimes pode se dar da mesma maneira que se estabiliza o crescimento populacional. Tem de se permitir o acesso aos meios oficiais de saúde, educação e trabalho para controlar a situação -.
DIRCEU SILVEIRA JÚNIOR
Delegado Regional
Mais Mortes
– Não tivemos crescimento de uma hora para a outra. Nos últimos anos, os números até baixaram. O que houve foram alguns períodos de anormalidade, principalmente pela questão da droga. Em alguns anos (2008 e 2009), disputas territoriais mais incisivas resultaram em índices elevados, como era o caso do Jardim Paraíso -.
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Tráfico de drogas
– O comércio de drogas gera disputas, conflitos. A maioria das vítimas é jovem, muitos com 17 ou 18 anos. São pessoas que transformam a vida em banalidade, matam por causa de R$ 5. Oportunidade social, distribuição de renda, aumento populacional, tudo isso conta. Mas o usuário de drogas contribui de maneira significativa para o aumento da criminalidade. Ele precisa ser tratado, mas a legislação deveria tratar a questão com mais rigor -.
Solução
– O pano de fundo dos crimes é a droga. Isso é de responsabilidade de todos. Se não
houver um esforço comum, a realidade não muda. Tentamos eliminar os focos onde
aumentam as ocorrências. Mas em brigas de trânsito e de bar, por exemplo, a prevenção deve partir da própria pessoa. Não dá para a polícia ficar dentro do bar. A comunidade também precisa ficar atenta aos locais públicos -.