Cruzamentos congestionados, longos engarrafamentos e muita paciência. Não é segredo algum que o motorista tenha que lidar com tudo isso no dia a dia do trânsito de Blumenau. Com a maioria das principais vias da cidade abarrotadas de veículos, os horários de pico são uma afronta àqueles que querem chegar ou sair de seus trabalhos. E é nessas situações que se pergunta: onde estão os guardas de trânsito?
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Um levantamento feito pela reportagem do Santa (veja tabela abaixo) mostra que dos 130 agentes que atuam em Blumenau, 114 estão ativos e apenas 33 têm condições de saírem às ruas em momentos mais problemáticos do trânsito. Isso na teoria. Na prática esse número é dividido em três, por conta dos turnos da manhã, tarde e noite, e nos horários de pico, todos são direcionados para as escolas para dar apoio aos 32 guardas que atuam exclusivamente na entrada e saída dos alunos.
Mesmo com a alteração feita em novembro de 2014, quando os guardas deixaram de atender acidentes sem vítimas, o efetivo não tem condição de estar diretamente nas ruas. A própria direção de trânsito do Seterb afirma que o número de agentes de trânsito de Blumenau é deficitário e que há a necessidade de mais pessoal – ainda que uma lei complementar de 2007 estabeleça que o máximo de guardas que a cidade pode ter é 130.
– Com mais 70 agentes nós conseguiríamos suprir a necessidade de Blumenau. Com 200 agentes seria possível montar um esquema onde em horários de pico os guardas ficariam em pontos complicados pra evitar grandes problemas. Mas na atual situação, infelizmente, isso é impossível de fazer – afirma o diretor de Trânsito do Seterb, Tarcísio dos Santos.
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Foto: Patrick Rodrigues / Agência RBS
A possibilidade do aumento no número de agentes de trânsito na cidade é vista como algo distante. Segundo o presidente da Câmara de Vereadores, Mário Hildebrandt (PSD) por ser um debate que impacta diretamente no orçamento do município, essa é uma discussão precisa partir do Executivo. Carlos Lange, presidente do Seterb, admite a necessidade de mais guardas, mas explica que o assunto não é prioridade no momento e o que a autarquia pretende fazer é readaptar escalas para possibilitar a presença de mais guardas nas ruas:
– Remanejar os horários dos agentes é uma saída, mas de hoje pra amanhã nós não temos uma solução. Precisamos parar, pensar e remodelar as escalas pra resolver essa demanda.
Debate estagnado
A meta para a década, segundo o Plano Nacional de Redução de Acidentes e Segurança Viária, é de que para cada mil veículos emplacados nas cidades brasileiras haja pelo menos um guarda de trânsito, com expansão dos efetivos, que sejam supridos com equipamentos modernos de fiscalização. Nesse cálculo faltariam 123 agentes em Blumenau para chegar ao número recomendado pelo plano. Mas a discussão sobre o assunto, pelo menos na Câmara de Vereadores, já esfriou, segundo o presidente da casa, Mário Hildebrandt (PSB).
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– Já houve o debate, mas ele ficou estagnado por conta da possibilidade de criação da Guarda Municipal Armada. Se essa nova instituição fosse criada, não haveria a necessidade de aumentar o efetivo da GMT -explica Hildebrandt.
“Há momentos em que o guarda é mais importante que o semáforo”, diz especialista
Em uma cidade com a malha viária saturada, principalmente por conta da quantidade de veículos nas ruas, a presença de agentes de trânsito em pontos de conflito surge como uma forma de amenizar problemas. Quem garante isso é Alexandre Gevaerd, ex-secretário de Planejamento Urbano e professor de engenharia de tráfego da Furb. Para o especialista, os grandes problemas do cotidiano do trânsito não seriam resolvidos só com a presença dos agentes, mas há momentos em que o guarda tem papel essencial.
– Eles conseguem agilizar coisas que um semáforo, por exemplo, não consegue. Mas para isso acontecer, precisam estar em cruzamentos importantes nos horários de pico. Seguramente uma abrangência maior dos agentes ajudaria a amenizar problemas – garante Gevaerd.
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O relevo da cidade e a burocracia para grandes construções de mobilidade reforçam ainda mais a necessidade de ampliação do efetivo, segundo Gevaerd.
– Como as grandes obras demoram para sair do papel e as pessoas em Blumenau não estão acostumadas com métodos alternativos de mobilidade, como o transporte coletivo e bicicletas, eu defendo que nós tenhamos cada vez mais guardas nas ruas -explica.
O aumento de veículos nas ruas de Blumenau é tido pelos especialistas como o principal fator pelos constantes congestionamentos na cidade. Em 2002, no início das estatísticas do Detran–SC, eram 113 mil veículos emplacados e, 14 anos depois, esse número chega a 247 mil _ crescimento de 117%. O número de guardas de trânsito também não acompanha essa crescente e, de 1997, quando eram 81 agentes, para 2016, com 114 efetivamente trabalhando, o aumento é de 41%.
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Mesmo com o número de guardas de trânsito considerado deficitário pelos próprios membros do Seterb, Blumenau está à frente das duas maiores cidades do Estado, Florianópolis e Joinville, na questão do efetivo. Com 374 mil veículos emplacados, 40 guardas municipais e 78 de trânsito, a maior cidade do Estado tem média de um agente para cada 3.174 veículos emplacados. Já a Capital, com 150 guardas municipais, tem uma média de um para 2.227. Se contarmos o efetivo hoje de 114 em Blumenau, a média na cidade será de um agente para cada 2.169 veículos.