Cristiane Kuntz tem 37 anos e, desde março deste ano, está entre as 40 pessoas que aguardam para agendar uma cirurgia bariátrica para redução de peso. No auge dos 115 quilos, a dona de casa adquiriu diabetes tipo 2, hipertensão, além de possuir hipotireoidismo.

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Mas esses não são os maiores problemas que afetam a vida dela e a fazem necessitar da cirurgia. Cristiane possui um grave problema no útero e precisa passar por um procedimento de retirada do órgão. Porém, isso só será possível se ela alcançar o seu peso ideal, os 65 quilos. Depois que iniciou os tratamentos para redução de peso, em 2017, a balança, hoje, marca 102 kg e Cristiane já está apta para a cirurgia.

Isso porque os pacientes realizam um acompanhamento de quase dois anos com equipes multidisciplinares antes de agendar o procedimento. Só que desde de 2019, Joinville enfrenta problemas para a realização das cirurgias. A espera é em decorrência da falta de envio de kits de grampeadores endoscópicos por parte do Estado.

Após denúncias da Associação dos Obesos Mórbidos de Joinville e Região (Assobesimor) ao Ministério Público, à ouvidoria do Serviço Único de Saúde (SUS) do Estado, além de manifestações dos pacientes, foram enviados dez kits ao Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, responsável pelas cirurgias, mas que não atenderam à demanda. Para tanto, foi necessário reduzir de quatro para duas cirurgias semanais, ou seja, de 16, caiu para oito por mês.

Demora piora o quadro clínico dos pacientes

Segundo a vice-presidente da Assobesimor, quando os dez kits estavam acabando, o hospital recebeu um empréstimo de mais dez e, quando estes finalizarem, as cirurgias podem ser canceladas. Atualmente, pelo menos 40 pacientes já estão liberados para os procedimentos cirúrgicos, mas ainda não realizaram a intervenção em razão da falta de material.

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Além disso, mais de mil pacientes aguardam para fazer o acompanhamento com a equipe multidisciplinar para obterem a autorização para a cirurgia. Segundo a dona de casa Cristiane, essa demora só faz piorar o quadro de saúde, principalmente em função da ansiedade que os pacientes sentem.

— Uma das coisas que nós mais sofremos é com o processo de reganho de peso a partir do momento em que nós somos liberadas pela nutricionista. Porque a gente faz todo um processo que dura um ano e oito meses e, com a demora, você corre o risco de ganhar alguns quilos — diz.

— Isso nos deixa mais ansiosos, mais depressivos, mais preocupados. A ansiedade nos faz comer mais — completa.

A vice-presidente da Assobesimor, Maria Carolina Ventura Cardoso, que também passou por cirurgia bariátrica e já chegou a pesar 170 quilos antes do procedimento, destaca a importância da situação em relação à saúde dos pacientes.

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— Se as cirurgias pararem, muitos pacientes não terão essa chance que eu tive. O obeso é o único doente que é culpado pela sociedade por estar doente, então essa espera eu passei na pele e sei que é desesperadora — afirma.

Segundo a vice-presidente, é necessário que haja uma conscientização social de que a obesidade não é descuido e nem desleixo, mas sim uma doença crônica que não tem cura.

— Apesar de não haver cura, há tratamento, e é por ele que estamos lutando incansavelmente — finaliza.

A Secretaria de Estado da Saúde informou que o processo licitatório está em andamento, dentro dos prazos existentes para possíveis contestações por parte das empresas participantes do certame, conforme previsto em nossa Legislação Federal.

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O que diz o Ministério Público

Em nota, o MP informou que até então não tinha sido levado ao conhecimento da 15ª Promotoria de Justiça de Joinville nenhuma denúncia em relação ao cancelamento de cirurgias bariátricas na cidade. No entanto, diante de tal alegação, foi instaurado um procedimento e acionada a Secretaria de Estado da Saúde para buscar informações a respeito.