Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que as urnas catarinenses devem ter um número maior de candidatos ligados às forças de segurança nas eleições em 2018, em comparação com 2014. Entre bombeiros, policiais civis e militares, delegados e outros agentes há 28 postulantes neste ano, contra 18 nas últimas eleições.
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O levantamento feito pelo Diário Catarinense levou em conta candidatos que declararam serem funcionários das forças de segurança e também aqueles que vão às urnas com nomes que fazem referência ao serviço policial ou militar.
Além do aumento, houve uma mudança de perfil dos candidatos. Neste ano, a maioria dos postulantes está filiada ao PSL, partido declaradamente de direita. Já em 2014, o partido com mais candidatos era o PSOL, que defende ideologias de esquerda.
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O professor do curso de direito da Estácio Luciano Góes acredita que essa mudança no perfil dos candidatos está muito ligada ao discurso interno das corporações, associado ao aumento das taxas de criminalidade nas ruas. Para ele, vários membros dessas instituições acreditam que a luta contra a criminalidade é uma briga do bem contra o mal.
— É um discurso muito fácil de ser manipulado, inclusive pela mídia, em programas policialescos — diz.
O especialista pontua que o conceito de combate à impunidade, encampado por muitos candidatos ligados à segurança pública, é relativo, já que o Brasil possui uma das maiores populações carcerárias do mundo.
Para o professor Daniel Pinheiro, coordenador do projeto Cultura Política, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), o aumento expressivo no número de candidatos ligados à segurança pública também reflete os altos índices de confiança nas Forças Armadas e nas polícias, apresentados em pesquisas de opinião.
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— Parece que essas pessoas se sentem na obrigação de atuar para mudar a realidade — acredita Pinheiro.
Ele diz que esse crescimento também reflete muito da descrença que a população tem nos políticos tradicionais. Outro fator que influencia o uso das patentes de serviço seria uma tendência na política nacional, de dar prioridade a pessoas famosas em larga escala, como artistas, ou nas comunidades e espaços profissionais, sejam igrejas ou quartéis.
No entanto, apesar do crescimento, a tendência é de que a maioria não seja eleita. Pinheiro aponta que as restrições para o financiamento das campanha deve privilegiar candidatos que tentam a reeleição, pois eles já contam com estruturas de campanha preparadas para conquistar os eleitores.
— Ainda vai ser muito difícil que muitos deles emplaquem — afirma.
Ainda que eles tenham uma votação expressiva e aumentem a representatividade, Góes diz que eles dificilmente vão conseguir melhorar a segurança nas ruas.
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— A presença massiva militarizada não quer dizer mais segurança nas ruas. A questão não será resolvida assim, mas com políticas públicas — acredita.
MAIS FARDA, MENOS BÍBLIA
Enquanto o número de candidatos ligados às forças de segurança teve aumento, os que se declararam membros de igrejas, seitas e outras religiões registrou leve queda. Em 2014, 10 candidatos que foram às urnas afirmaram à Justiça Eleitoral que faziam parte de lideranças religiosas ou se candidataram com nomes referentes a cargos de igrejas. Neste ano, são sete.
Em 2014, todos os candidatos ligados a igrejas e cultos religiosos concorreram usando essa condição como nome nas urnas. Havia cinco pastores, um apóstolo e um padre. Já em 2018, também houve redução nesse ponto, visto que dois candidatos optaram por concorrer apenas com os nomes de batismo, sem ressaltar os cargos nas instituições religiosas.