O silêncio da madrugada de quarta-feira (22) foi quebrado perto das 4h30min por rajadas de tiros. Os moradores da Vila União – pequena comunidade no bairro Vargem do Bom Jesus, no Norte da Ilha de Santa Catarina – acordaram pelo anúncio de uma invasão que estava prestes a acontecer: “Nós vamos tomar isso aqui”, teriam dito os criminosos em tom agressivo empunhando armas com todo tipo de calibre. Até o atendente da Central de Emergência da Polícia Militar (190), que recebeu o pedido de socorro de um morador, chegou a ouvir os disparos que atingiram casas e estabelecimentos comerciais.
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Para a polícia, o ataque teria partido de integrantes de uma facção paulista que tenta dominar território em Santa Catarina para controlar o tráfico de drogas. Mas versão ventilada na Vila União aponta rivalidade interna, entre traficantes da própria comunidade. Um casal que estava no momento do conflito em uma residência, na esquina da Rua Ramos Um com a Estrada Anarolina Silveira Santos, onde seria o ponto de “olheiros” do tráfico, foi assassinado. O homem havia sido identificado como Evandro Galvan, 28 anos.
Capital soma 154 mortes violentas
Com estes dois assassinatos, Florianópolis já contabiliza 154 mortes violentas neste ano, incluindo homicídios, latrocínios, mortos por policiais e lesões corporais seguidas de morte. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública de SC. Em 2016, foram registrados 92 assassinatos na Capital, um salto de 94,9%.
Entre 1h de terça e 4h30min de quarta, nove pessoas morreram na Grande Florianópolis. Entre os mortos, está um homem que foi carbonizado vivo em Palhoça. Um vídeo com o assassinato circulou pelas redes sociais. Nas imagens, os criminosos também agridem uma mulher que supostamente teria sido morta.
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Com exceção da morte de um assaltante na Capital e de um homicídios em São José decorrente de uma briga, os assassinatos estão relacionados ao tráfico de drogas.
O primeiro dos crimes ocorreu na madrugada de terça, quando um assaltante foi morto ao invadir a casa de um morador no bairro Estreito, região continental de Florianópolis. O dono da casa reagiu ao assalto com uma arma. Alvejado com pelo menos dois disparos de fogo, Max Machado, 28 anos, morreu. O outro assaltante fugiu.
Mais tarde, durante a noite, três irmãos foram mortos dentro de uma casa no Morro Nova Trento, comunidade do maciço do Morro da Cruz, em Florianópolis. Segundo a polícia, a suspeita é de rixa interna por causa do tráfico. A polícia identificou as vítimas como Fernando de Souza, 37 anos, Geovani de Souza, 34, e José Luciano de Souza, 31. Na madrugada de quarta, um homem morreu após uma discussão entre vizinhos no Morro do Avaí, em São José. Ezequiel Kuster, 35 anos, não resistiu aos ferimentos de arma de fogo. O casal na Vila União fechavam a lista até ontem.
O secretário de Segurança Pública (SSP), César Augusto Grubba, admite que, se o Estado não ocupar as zonas de conflito, terá ainda mais dificuldade em frear a guerra entre as facções, o que vêm alavancando a violência em SC:
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– A polícia é um dos braços, trabalhamos com inteligência e aumentaremos o efetivo. Mas a parte social tem que caminhar junto, senão a gente não vai dar conta de vencer essa guerra. O Estado enquanto Nação tem que evitar a entrada de armas e drogas nas fronteiras.
Os dados da SSP revelam ainda que, até setembro deste ano, as mortes violentas em todo o Estado já haviam crescido 10% (873 em 2016 e 965 em 2017).
Homicídios cresceram neste ano em Blumenau e Joinville
Em Joinville, onde há disputa por território entre as mesmas facções, o aumento é de 6,9%, se comparados os mesmos períodos (116 mortes até novembro de 2016 e 124 até novembro de 2017).
Em Blumenau, o número de homicídios chegou a 38 neste ano. Trata-se de o recorde desde 1996, quando o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde começou a disponibilizar estatísticas do município. Um 39º caso que integrava a listagem foi retirado da relação por ter ocorrido no território de Indaial. O total de 38 homicídios é 52% maior do que o registrado até o mesmo período do ano passado, quando a cidade tinha 25 vítimas.
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O caso mais recente foi a morte do detento Cleiton da Silva, 27 anos, assassinado no Presídio Regional de Blumenau. Do total de homicídios deste ano, quatro mortes foram caracterizadas como feminicídio. O recorde indesejado pertencia até então ao ano de 2010, quando 34 mortes violentas foram registradas.
Segundo a Polícia Civil, que investiga os crimes, a maioria das mortes está ligada a três pilares: tráfico de drogas, desavenças e disputas entre facções criminosas. Por isso, ainda segundo a Polícia Civil, não representaria aumento na insegurança pelo fato de serem casos já ligados ao crime.
*Colaborou Jean Laurindo
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