A morte do estudante de Jornalismo Alex Sobral, de 26 anos, natural de São Paulo, comoveu a comunidade da Universidade Federal de Santa Catarina nesta sexta-feira. Uma nota de pesar foi emitida pelo Núcleo de Identidades de Gêneros e Subjetividades (NGIS) da instituição, departamento voltado às discussões envolvendo sexualidade. O aluno teria se suicidado na quinta-feira, segundo confirmação do Instituto Médico Legal. O corpo foi encontrada à noite no bosque do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, localizado próximo ao Planetário, em Florianópolis.
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A divulgação da nota de pesar pelo núcleo propõe uma reflexão sobre a violência contra a comunidade LGBT e a construção de estratégias de combate à homofobia, estímulo à denúncia, apoio, solidariedade e justiça. Segundo o texto, o jovem “quis sumir” do contexto violento em que vivia e não teve tempo de devolver à sociedade brasileira os conhecimentos obtidos em sua formação de excelência na UFSC.
O material ainda cita o recente caso do jovem Kaique Augusto Batista dos Santos, de 17 anos, em São Paulo, que tem mobilizado a comunidade LGBT. O adolescente foi encontrado desfigurado pela Polícia Militar daquele Estado, no sábado, próximo a um viaduto na região da Bela Vista, na Avenida 9 de Julho. A ocorrência foi registrada inicialmente como suicídio, mas sinais de tortura identificados no corpo do jovem fizeram a família contestar a versão oficial.
>>> Confira abaixo a íntegra da nota do Núcleo de Identidades de Gêneros e Subjetividades da UFSC postada em página do Facebook nesta sexta:
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O Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS) da Universidade Federal de Santa Catarina vem a público afirmar o seu pesar pela morte do jovem gay Alex Sobral, ex-estudante de nossa comunidade universitária. A polícia acredita tratar-se de suicídio. Alex, que cursava Jornalismo, foi encontrado morto no bosque do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH).
Muitas vezes elaboramos o suicídio como resultado de enorme sofrimento psíquico do indivíduo e depositamos sobre o sujeito toda a responsabilidade do ato que cometeu. Entretanto, já no século XIX o fundador da escola francesa de sociologia, Émile Durkheim nos ensinou que toda a sociedade, com seus valores e crenças, é responsável pelas mortes voluntárias que produz. Pensando o tempo presente, a comunidade LGBT tem sido fortemente impactada por mortes voluntárias e involuntárias.
São alarmantes os índices de suicídio dentre as populações jovens de lésbicas, gays e travestis. Segundo dados da Universidade Federal do Alagoas, as pessoas LGBT são mais propensas a “quererem sumir”, índice que chega a 78% das pessoas entrevistadas. Além disso, segundo a Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, jovens LGBT têm até cinco vezes mais risco de cometerem suicídio que pessoas heterossexuais.
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No que tange as mortes involuntárias, segundo dados dos movimentos sociais, apenas em 2014 no Brasil foram assassinadas 18 pessoas LGBT, demonstrando o crescimento dos índices de violência letal. De acordo com dados do “Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil: ano de 2012”, publicado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, as notícias de mídia divulgadas nos anos 2011 e 2012 mostraram que “as violações que resultam em morte detêm o maior percentual, somando 81,36%.
Os homicídios são os mais noticiados em 2012 entre as violências físicas, com 74,56%, seguidos por lesões corporais (70,76%), latrocínios (6,82%) e tentativas de homicídio (7,87% ) . Em 2011, os homicídios totalizaram 78,6%, seguidos por lesões corporais (13,7%), tentativas de homicídios (6,5%), latrocínios (0,9%) e cárcere privado (0,3%). Esse quadro de violências homo/lesbo/transfóbicas, quando não resultam em mortes de LGBT, podem produzir deficiências, contribuindo para aumentar o contingente de novas pessoas com deficiência no Brasil.
O recente assassinato do jovem Kaique em São Paulo tem mobilizado a comunidade LGBT. Kaique foi encontrado morto após uma noite de balada com todos os dentes arrancados. Segundo o deputado federal Jean Willys “[em 2012,] 338 pessoas foram assassinadas por serem gays, lésbicas, travestis ou transexuais no Brasil, 27% mais que no ano anterior, que registrou 266 homicídios homo/lesbo/transfóbicos, 317% mais que em 2005”.
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Nesse quadro de extrema hostilidade contra pessoas LGBT que transversaliza classe, gênero, deficiência, raça, etnia, o NIGS/UFSC vem a público reafirmar seu compromisso na construção de estratégias de combate à homofobia, estímulo à denúncia, apoio, solidariedade e justiça.
À família e aos amigos do jovem Alex Sobral enviamos nossas sinceras condolências, compartilhando a dor da perda de mais uma promessa criativa da comunidade LGBT que “quis sumir” do contexto violento em que vivia. Sua perda, para além da dor da família e amigos, é também uma perda social pois foi um jovem que estudou em nossa universidade pública e não teve tempo de devolver à sociedade brasileira os conhecimentos obtidos em sua formação de excelência na UFSC. Trata-se portanto de uma perda que nos afeta a todos e todas enquanto comunidade universitária.