As retiradas de civis gravemente doentes de uma região rebelde da Síria, sitiada pelo regime, prosseguiam a conta-gotas, com 12 pacientes que deixaram a zona na noite de quarta-feira (28).
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A ONU disse, por sua vez, estar preocupada com a utilização de crianças como “moeda de troca”.
Doze pessoas, em sua maioria crianças, conseguiram sair de Ghuta Oriental, perto de Damasco.
Esse número é bem menor do que as centenas que, segundo a ONU, deveriam ser retiradas por razões médicas desse território, segundo a porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) na Síria, Ingy Sedki.
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“A maioria sofre de câncer, de doenças crônicas e de enfermidades do coração”, explicou.
Até agora, 16 pacientes de Ghuta Oriental foram beneficiados por essa operação de retiradas por questões de saúde, mas o CICV espera que outros possam sair em breve.
Na sede do Crescente Vermelho sírio, em Duma, um correspondente da AFP registrou a passagem de um grupo de 12 enfermos, acompanhados de seus familiares e à espera de ambulâncias, na quarta à noite.
Em um dos veículos, Abdel Rahman, um bebê de sete meses, dormia nos braços da mãe, ligado a um aparelho de respiração artificial.
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Enquanto isso, um dos socorristas tentava animar um garoto de menos de um ano para, então, colocá-lo na ambulância.
A ONU pede a retirada de cerca de 500 doentes, mas, com os atrasos e com os bloqueios da operação, 16 pessoas não resistiram e faleceram desde novembro.
Cerca de 400 mil habitantes da Ghuta Oriental estão presos nessa região, ao leste de Damasco, sitiadas desde 2013 pelas tropas do governo de Bashar Al-Assad, em meio a uma grave escassez sanitária e de alimentos.
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– ‘Moeda de troca’ –
Tanto as evacuações médicas quanto a chegada de ajuda humanitária a Ghuta Oriental podem ser realizadas apenas com a autorização do governo sírio. Com o apoio militar de Rússia e Irã, Damasco conseguiu retomar o controle da maioria dos territórios conquistados pelos rebeldes.
Segundo o grupo rebelde de Ghuta, Jaish al-Islam, firmou-se um acordo com o governo Assad para que essas retiradas possam acontecer.
“Aceitamos a libertação de um certo número de prisioneiros em troca da retirada dos casos humanitários mais urgentes”, relatou Al-Islam, acrescentando que cinco trabalhadores, detidos em março, conseguiram deixar Ghuta.
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Já o chefe do grupo de trabalhos humanitários da ONU para a Síria, Jan Egeland, mostrou-se crítico em relação ao acordo.
“Não é um bom acordo se trocam crianças doentes por presos. Isso significa que as crianças se transfomaram em uma moeda de troca nessa luta feroz”, declarou Egeland à rede BBC.
“Isso não deveria ocorrer. Os doentes têm direito de serem evacuados, e nós temos a obrigação de evacuá-los”, acrescentou.
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Último reduto da rebelião perto de Damasco, Ghuta faz parte das quatro “zonas de distensão” definidas em março por Rússia e Irã, aliados do governo, e por Turquia, que apoia os rebeldes, para tentar chegar a um cessar-fogo na Síria. Recentemente, porém, o governo intensificou seus bombardeios nessas áreas.
* AFP