O novo presidente do Peru, Martín Vizcarra, já anunciou que governará com um gabinete ministerial totalmente renovado: vai-se cercar de novos rostos, embora se espere que mantenha o modelo econômico neoliberal e as linhas gerais da Política Externa de seu antecessor Pedro Pablo Kuczynski.
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Seu principal desafio será o mesmo de Kucyzynski e se concentra na relação com um Congresso dominado pela oposição.
Engenheiro de 55 anos sem filiação partidária, ex-embaixador no Canadá e ex-governador da região de Moquegua, ao sul, Vizcarra assumiu a Presidência na sexta-feira (23) para completar o mandato de Kuczynski, até julho de 2021.
Existe consenso de que, na economia, não haverá grandes diferenças em relação a Kuczynski, ex-banqueiro de Wall Street de 79 anos que renunciou na quarta-feira (21), arrastado por escândalos de corrupção.
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“Em geral, não há qualquer diferença entre ambos. Os dois privilegiam sua abordagem em uma economia de investimento privado”, disse à AFP o analista político Augusto Álvarez.
“Talvez Vizcarra mostre maior preocupação com as regiões do interior do país, onde queria acelerar investimentos”, completou.
Em relação à Política Externa, que se caracterizou por uma defesa do sistema multilateral, críticas ao protecionismo comercial de Donald Trump e por uma ativa rejeição ao governo chavista da Venezuela, tampouco se vislumbram mudanças.
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“Vizcarra manterá as grandes linhas que marcaram a diplomacia peruana” durante os 20 meses de governo de Kuczynski, resumiu Álvarez.
Em sua mensagem de posse na sexta, o novo presidente disse que seu governo vai “manter o que se fez bem, modificar o que pode ser melhorado e fazer o que não se fez”.
– Novo gabinete –
Será preciso esperar mais alguns dias até conhecer seu gabinete ministerial para ter certeza da direção que o novo governo deve tomar.
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Por enquanto, o presidente anunciou que renovará todo gabinete em um prazo bem breve – em cerca de dez dias, diz uma fonte próxima.
Isso implica a saída da primeira-ministra de Kuczynski, Mercedes Aráoz, com quem Vizcarra mantinha uma relação tensa, embora ela continue a ser a vice-presidente do Peru (sem qualquer função prática).
“Não haverá grandes mudanças, nem sobressaltos. O que vai mudar é o pessoal que o acompanha: no caso de Kuczynski eram seus amigos em um gabinete tecnocrático empresarial”, disse à AFP o analista político Juan de la Puente.
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“É provável que (agora) vejamos gente com mais experiência política de diversos setores”, acrescentou.
Vizcarra “não é um homem de bancos, nem de empresas. É um engenheiro de origem regional substancialmente distinto de Kuczynski. Essa diferença vai-lhe permitir construir um governo mais plebeu no sentido social”, ressaltou De la Puente.
– ‘Consciente de sua fragilidade’ –
Vizcarra deverá afinar seus conhecimentos de Engenharia para estender pontes para o Congresso, que manteve pressão sobre Kuczynski desde que assumiu.
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Também “tem de lidar com a oposição com mais cuidado, porque, caso contrário, ficará muito mal perante a opinião pública”, disse à AFP o analista Fernando Rospigliosi.
Lembra-se que foi uma inédita aliança entre o partido populista de direita de Keiko Fujimori, Força Popular, e os dois partidos de esquerda, o que levou Kuczynski ao colapso.
Nesse contexto, o fato de Vizcarra não pertencer a nenhum partido é visto por alguns como uma força e, para outros, como um ponto de fraqueza.
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“Não tem partido político, tampouco o entorno social – tecnocracia limenha – que sustentava o governo de Kuczynski. Nesse sentido, diria que é mais frágil ainda”, opinou o analista político Carlos Meléndez.
“Isso não significa que vá cair, porque, diferentemente de Kuczysnki, Vizcarra é mais consciente de sua fragilidade”, explicou.
Para o especialista, pelo menos “terá uma lua de mel” com o Congresso, o que Kuczynski não teve.
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* AFP