A versão final do projeto de Constituição pode ficar pronta na quarta-feira no Egito, dia em que foram registrados novos choques entre policiais e manifestantes no Cairo, após a inédita mobilização popular de terça-feira contra a ampliação dos poderes do presidente islamita Mohamed Mursi.

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Neste contexto, duas altas instâncias judiciais denunciaram este reforço de poderes anunciado no dia 22 de novembro e os islamitas indicaram que realizarão uma manifestação no sábado em apoio ao mandatário.

A versão final do projeto de Constituição deve ficar pronta nesta quarta-feira, indicou o chefe da comissão responsável pela elaboração deste texto polêmico que estabelecerá as instituições do Egito pós-revolucionário. Segundo a agência Mena, a comissão votará este texto na quinta-feira, para depois submetê-lo a um referendo.

Hossam al-Ghariani, que preside esta comissão dominada por islamitas, convocou liberais, oposição e coptas membros da comissão, que haviam abandonado os trabalhos, para que “voltem e terminem as discussões na quinta-feira”.

– Amanhã será um dia emblemático – declarou.

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A composição da Comissão Constitucional já é atualmente alvo de recurso no Supremo Tribunal Constitucional.

– Não é um bom momento para precipitar a Constituição, porque estamos em meio a uma extrema divisão – ressaltou Heba Morayef, diretora da ONG Human Rights Watch no Egito.

– As associações de defesa dos direitos humanos estão muito preocupadas com algumas (disposições sobre a) proteção dos direitos no projeto que vimos – acrescentou.

Já a Irmandade Muçulmana e outras formações islamitas realizarão uma manifestação no sábado no Cairo a favor de Mursi, anunciou nesta quarta à AFP o porta-voz do grupo, que havia cancelado uma convocação anterior na terça-feira por ter coincidido com protestos dos opositores ao presidente.

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Também nesta quarta-feira, a Suprema Corte do Egito e a Corte de Cassação denunciaram o decreto presidencial de 22 de novembro por meio do qual Mursi ampliou seus poderes.

A Suprema Corte considerou injustificadas as críticas de parcialidade feitas contra a instituição pelo presidente, e a Corte de Cassação anunciou que suspenderá seus trabalhos até que Mursi cancele o questionado decreto.

Os partidários de Mursi consideram que os poderes extraordinários que o presidente atribuiu a si mesmo no decreto de 22 de novembro o permitirão iniciar as reformas indispensáveis no caminho da democracia e serão eliminados assim que a nova Constituição for adotada.

No Cairo, foram registrados nesta quarta novos incidentes entre manifestantes e forças de ordem. A polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo que chegou às barracas montadas na Praça Tahrir, onde os manifestantes acampam desde 23 de novembro.

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Centenas de manifestantes passaram a noite na praça depois de protestos contra o decreto que reuniram dezenas de milhares de pessoas em todo o país.

O decreto de 22 de novembro, que impede que as decisões de Mursi sofram recursos na justiça, provocou uma crise sem precedentes desde a eleição do presidente islamita, em junho.

Três pessoas morreram desde que os incidentes tiveram início, em enfrentamentos entre policiais e manifestantes ou entre manifestantes dos dois campos rivais, segundo fontes médicas. Dezenas ficaram feridos, de acordo com o Ministério da Saúde.

As manifestações de terça-feira, durante as quais o poderoso movimento da Irmandade Muçulmana também foi alvo de vaias, foram realizadas na maior parte das 27 províncias do país.

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No momento em que o Egito precisa de ajuda para reativar a sua economia, o Fundo Monetário Internacional advertiu que “uma grande mudança” na política econômica pode prejudicar o pré-acordo sobre o plano de ajuda de 4,8 bilhões de dólares.