O terror nas ruas, demonstrado com ameaças à população e nas chamas de ônibus incendiados, mais uma vez escancara a triste realidade embutida na sociedade: o envolvimento de adolescentes recrutados para servir de mão de obra de criminosos.

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Garotos de 15, 16 e 17 anos, muitas vezes usuários de crack e cocaína, empunhando pistolas e revólveres como se fossem assaltantes experientes, estão sendo usados para cometer os atentados nas ruas em Santa Catarina.

Essa constatação é diagnosticada por policiais civis e militares que investigam o ressurgimento dos ataques em série no Estado, desde quarta-feira, orquestrados mais uma vez pela facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC).

Uma das dificuldades para conter esse tipo de atentado é que os adolescentes se consideram impunes à legislação e ao ato infracional que cometem. “Não dá nada”, é como costumam dizer nas viaturas e delegacias quando são apreendidos.

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Na sexta-feira, sete tinham sido detidos em Florianópolis, entre eles um de 17 anos, após o ataque que destruiu um ônibus no Bairro João Paulo. Seis foram encaminhados à promotoria da Capital, onde até a noite de continuavam sendo ouvidos. A decisão de internação dependeria do Juizado da Infância e Juventude, que não havia tomado uma decisão até o início da noite.

– São filhos de pais presos, com família desestruturada. Alguns usam drogas e são sim aliciados por criminosos de facção – reconheceu a secretária da Justiça e Cidadania, Ada De Luca.

Os garotos cometem os ataques para não serem penalizados pelo PGC – cuja sentença pode ser a morte – ou por dívidas de drogas a traficantes. Outra motivação é simplesmente a vontade de entrar na onda, tumultuar e ganhar o status de bandidos juvenis.

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Para agravar o quadro de alerta e tensão, houve a fuga de 12 adolescentes do Centro de Atendimento Socioeducativo de Itajaí, no Litoral Norte, na madrugada de quinta-feira. Entre os fugitivos, conforme policiais, há garotos associados ao PGC _ apenas três haviam sido apreendidos novamente na mesma noite.

– É uma batalha que travamos e que não está fácil. Eles são instrumento, sofrem pressão de criminosos e na verdade são vítimas disso tudo. Não há estrutura familiar. A lei também favorece para essa realidade e a grande maioria usa crack – ressalta o diretor do Departamento de Administração Socioeducativo (Dease), Sady Beck Júnior.