A Polícia Federal (PF) mais atuante, operacional e agressiva no enfrentamento ao crime são promessas do novo superintendente em Santa Catarina, delegado Clyton Eustáquio Xavier. Ele toma posse na próxima terça-feira, em Florianópolis.

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Mineiro, 40 anos, sendo 15 anos na PF, o delegado anunciou em entrevista ao Diário Catarinense que fará mudanças internas para buscar atuação policial com enfoque mais investigativo e operacional, principalmente no combate ao crime organizado (Primeiro Grupo Catarinense), tráfico de drogas, crimes contra a administração pública, corrupção e área ambiental.

Em nível nacional, nos bastidores do meio policial, a sede de Santa Catarina circularia com rótulo de superintendência para policiais acomodados. Clyton se diz ciente da falta de operações e que está se inteirando sobre ações passadas que não evoluíram na Justiça. Algumas delas são Moeda Verde, Influenza e Transparência.

Clyton substitui o delegado Ademar Stocker, que ficou três anos e oito meses no cargo e foi para a Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro. No currículo, constam atuações em Foz do Iguaçu (PR), Uberlândia (MG), Brasília (DF), e nos estados do Maranhão, Pernambuco e Rio de Janeiro, onde foi chefe da delegacia de combate ao crime organizado.

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Atualmente era coordenador-geral de controle de segurança privada em Brasília. O número dois da hierarquia da PF (delegado regional executivo) no Estado será o delegado Paulo César Barcelos Cassiano Júnior.

ENTREVISTA: Clyton Eustáquio Xavier, superintendente da PF em SC.

No seu gabinete, na Capital, o delegado conversou com o DC nesta sexta-feira, onde reconheceu a ausência de grandes ações no Estado e prometeu mudanças:

Diário Catarinense – Nota-se que a Polícia Federal em Santa Catarina não tem feito grandes operações, ao contrário de estados como Rio Grande do Sul e Paraná. Qual o motivo?

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Clyton Eustáquio Xavier – A nossa intenção de vir para cá é justamente tornar a Polícia Federal mais atuante, uma PF proativa, esse é o nosso desejo. Estamos trazendo alguns policiais, alguns delegados para compor a equipe que tem esse viés de investigação, mais operacional, para justamente começar alguns trabalhos. A gente sabe que é um Estado pujante, que tem crescido muito, principalmente na região de Joinville, Itajaí, na própria Capital. Então com certeza vamos trilhar nesse caminho da operacionalidade.

DC – Vocês têm constatado a ineficiência e falta de ações mais atuantes operacionais em Santa Catarina?

Clyton – Houve algumas operações no passado, mas ultimamente temos percebido lá em Brasília que a PF precisa ser mais agressiva, no bom sentido, de ter esse viés mais operacional, investigativo. Temos aqui na região a potencialidade de tráfico de drogas, o ecstasy, embora tenhamos pego carregamentos de ecstasy. Mas a demanda é grande. Tem os portos, que são grande vias de escoamento dessas drogas, a gente sabe disso. Nos últimos 40 dias fizemos apreensões no Norte do Estado, com denúncias anônimas e conseguimos pegar vários quilos de cocaína. É importante dizer que a PF trabalha também com a recepção de informações, de denúncias, para poder atuar nesses casos.

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DC – O que mais lhe chama a atenção no Estado é o tráfico de drogas?

Clyton – Tráfico de drogas, a questão ambiental aqui dizem que é bastante acentuada, o defeso. Temos atuado nesse sentido e esperamos incrementar essas investigações. Serão prioridades, além de crimes contra a administração pública, de desvio de recursos.

DC – Vai investigar corrupção também?

Clyton – Com certeza. É uma diretriz da diretoria de combate ao crime organizado em Brasília focar também nessa questão dos desvios de recursos públicos, da União.

DC – Santa Catarina viveu desde o ano passado duas ondas de atentados que foram notícia no País. Por trás há uma facção criminosa e notou-se que a PF não se envolveu muito nessa investigação. A PF vai combater esse crime organizado, principalmente essa facção?

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Clyton – Com certeza. Se eles atuam com tráfico de drogas, temos por obrigação combater, o que está na Constituição. A gente tem que trabalhar de forma integrada com os órgãos de segurança pública aqui do Estado. Isso é primordial. A PF, o efetivo não é grande, é pequeno, e a gente trabalha muito com a inteligência e isso é essencial para o combate a qualquer tipo de criminalidade.

DC – O senhor atuou no Rio de Janeiro no combate ao crime organizado. Como essas facções criminosas se criam a ponto de ameaçar e parar um Estado, deixando as pessoas em casa com medo, e se organizando de dentro de presídios?

Clyton – Na verdade eles buscam esse know how e aí procuram terrenos férteis para desenvolver suas atividades e vão migrando para outros estados. Isso aconteceu no Rio de Janeiro quando os órgãos de segurança pública lá apertaram a fiscalização e com a instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e começaram a migrar. Isso observamos lá enquanto estivemos a frente da delegacia regional de combate ao crime organizado. E em Santa Catarina, pelo que ouvi dizer, também começou esse embrião dessa criminalidade organizada. É uma frente que nos preocupa e pretendemos atacá-la.

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DC – Qual será a sua primeira medida no Estado?

Clyton – Reorganizar a casa, compor as nossas chefias. O nosso efetivo é muito qualificado, é reduzido. Precisamos identificar o perfil de cada delegado, agente e colocar nas áreas que eles têm mais propensão a desenvolver as suas habilidades.

DC – Quais as mudanças?

Clyton – Estamos alterando as chefias da inteligência, da delegacia regional executiva, a corregedoria. Não por deficiência de quem se encontra, mas é normal trazer a sua equipe, trazer pessoas de fora. Isso é um hábito da polícia, de se trabalhar com pessoas que você tem mais proximidade.

DC – Como é assumir e ver uma faixa estendida ali na frente em que está escrito SOS PF?

Clyton – Ano passado houve a greve da PF. A gente entende, compreende esse ânimo do efetivo, mas a gente tem que lidar com essa situação. Tenho certeza que a direção geral está olhando com carinho essa situação com o Ministério da Justiça e sou muito esperançoso que isso vai melhorar, para que o efetivo volte a ficar motivado.

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DC – Na questão ambiental, Santa Catarina tem muitas áreas sensíveis. Haverá atenção?

Clyton – Queria destacar o nosso núcleo de polícia marítima, atuante. É um pessoal que dá o sangue e para nós é orgulho. A inteligência é essencial e a repressão é aquela planejada diariamente para atuarmos e tentar conter.

DC – Fala-se que os portos catarinenses são alvo de escoamento de tráfico de drogas. É real?

Clyton – Existe sim, tanto é que os carregamentos que pegamos semana passada tudo indicava que iriam sair através dos portos. Foram denúncias que recebemos e pegamos no Norte. Estamos atento e precisamos motivar o efetivo para ter essa linha operacional.