Já empossado como novo reitor da UFSC para um mandato de quatro anos, Luís Carlos Cancellier de Olivo participou na noite desta terça-feira da solenidade de transmissão de cargo na universidade.

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Apesar de crítico à gestão anterior, ele garante que não haverá medidas de impacto a curto prazo. Mas mudanças já estão sendo negociadas, especialmente em relação à segurança do campus: o atual Departamento de Segurança será transformado numa secretaria interna e há conversas para que a presença da PM na UFSC volte a ser mais frequente. Em entrevista ao Notícia na Manhã desta quarta-feira, Cancellier falou sobre os problemas que deve enfrentar em sua gestão.

“Respeito é a palavra chave. No discurso de posse de ontem eu fiz questão de ressaltar a todo instante duas palavras: diálogo e respeito. Ninguém questiona que as reivindicações são justas. Nós temos um acesso a universidade com 50% de escolas públicas e cotas. Hoje, é como se a gente convidasse as pessoas a virem a nossa casa, oferecesse lugar para dormir, almoço, café e a pessoa não encontrasse isso. É isso que estamos vivendo hoje. Não há uma política de liberação de recursos financeiros suficiente para garantir a permanência dos estudantes”, disse.

Durante o ato de ontem, Cancellier agendou uma reunião nesta quarta-feira com os estudantes para tratar dos assuntos relacionados a moradia e permanência estudantil. O encontro acontecerá na moradia estudantil da UFSC, às 17h.

Ouça a entrevista na íntegra:

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Durante a solenidade, integrantes do Comitê Estudantil de Luta pela Permanência fizeram uma manifestação por melhorias nas políticas de permanência estudantil dentro da UFSC. Cancellier se comprometeu a receber alunos para uma reunião ainda nesta quarta-feira.

Solenidade foi interrompida por manifestação de comitê estudantil
Solenidade foi interrompida por manifestação de comitê estudantil (Foto: Simone Feldmann / Agência RBS)

‘Os policiais não vão vir para reprimir movimentos estudantis e sociais’

Diário Catarinense – O senhor é crítico quanto à gestão anterior. O que muda a partir de agora?

Luís Carlos Cancellier de Olivo – Não se chega no primeiro dia e sai mudando tudo, criando medidas de impacto. O importante é pensar no processo. Temos o plano de gestão, que foi discutido na campanha, e tem metas para os quatro anos. O que vamos fazer de início é identificar a situação em que nos encontramos, verificar o que se pode fazer a partir da realidade encontrada.

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DC – A equipe de trabalho já está pronta?

Cancellier – Todos os pró-reitores, secretários, diretores, todas as funções de comando estão indicadas e trabalhando há dois meses. Tivemos a preocupação de não deixar para o último dia. Agora entramos em outra etapa, de ser efetivamente responsável. Vamos estabelecer um mapa com a situação que encontramos.

DC– A crise econômica tem promovido cortes na Educação. Que alternativas o senhor enxerga para contornar as dificuldades financeiras?

Cancellier – Há dificuldades inerentes à toda administração pública. Em especial, a Educação. Temos um orçamento pré-determinado. Vamos continuar indo ao Ministério da Educação a cada mês para liberar empenhos, buscar recursos, tentar honrar contratos de serviços que não podem parar. É um trabalho permanente. Boa parte do trabalho do reitor hoje é negociar a liberação de recursos e empenhos.

DC– Segurança é uma preocupação à parte. A Polícia Militar deve se fazer presente na UFSC?

Cancellier – Nosso plano prevê uma política de segurança. Isto envolve as entidades no entorno do campus e um diálogo constante com as polícias Civil e Militar. Contatos com a Secretaria da Segurança Pública já estão sendo feitos para tratar de que forma eles podem nos ajudar no período noturno, nos fins de semana, nos momentos de maior movimento, nas áreas de maior risco na universidade. Acho que há uma boa vontade do secretário César Grubba para contar com o apoio deles no sentido da prevenção e do acompanhamento.

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DC– O senhor não espera resistência pela presença policial?

Cancellier – Não creio. Porque não é uma ação repressiva. Os policiais não vão vir para reprimir movimentos estudantis e sociais. A questão é mais de proteção, de visibilidade e de presença para inibir, a princípio, e a médio prazo eliminar qualquer risco que afete a vida das pessoas.

DC – Há alternativas além do policiamento?

Cancellier – Sim, o debate não se resume a ter ou não PM no campus. Precisa haver uma política de videomonitoramento. Há vários locais mais ermos da universidade que o videomonitoramento pode ajudar. Uma política de iluminação, de melhoria do ambiente, são questões que podem fazer com que alunos e professores circulem com mais segurança. O Departamento de Segurança hoje, que conta com 40 agentes, se transforma a partir de agora numa Secretaria de Segurança. Ganha esse status para negociar com a comunidade, com o Governo do Estado. Espero que em breve já tenhamos uma alteração no quadro da segurança.

DC – Quanto ao Hospital Universitário, a assinatura do contrato com a Ebserh é um caminho sem volta?

Cancellier – Já foi assinado. Estamos na fase de execução do contrato: nomeação dos dirigentes, realização do concurso público, renovação dos equipamentos, abertura dos leitos.

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DC – Alguma medida será mudada em relação ao controle da jornada de trabalho no HU?

Cancellier – Hoje, boa parte de quem trabalha no HU já trabalha em regime de seis horas e lá já está instalado o ponto eletrônico. O que se pratica no HU é uma discussão que precisamos estender para toda a universidade. Porque o ponto foi uma ordem judicial que a universidade está cumprindo. E a jornada de trabalho de 30 horas depende de negociação da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas com a Procuradoria e o Ministério Público de forma que se possa, sem ferir a legislação e o atendimento, fazer uma composição pela flexibilização da jornada.

DC – Qual será a postura da reitoria em um eventual governo Michel Temer?

Cancellier – A universidade é uma autarquia do MEC. Independentemente de quem forem os gestores do MEC, a universidade goza de determinada autonomia didática, administrativa. Financeira nem tanto porque depende do orçamento do MEC. Mas a nossa preocupação, sempre junto ao MEC, ao Congresso Nacional, ao Senado e à Câmara, vai ser sempre lutar por mais verbas, pela autonomia da universidade, pelas políticas de inclusão, pelas políticas de ação afirmativa, que não haja recuo nas conquistas obtidas. Isto independentemente de quem seja o ministro, o presidente da República.