As bandeiras a meio mastro na área externa do prédio dão mostras de que o luto persiste na Federação Catarinense de Futebol (FCF). É estranho chegar à imponente construção, em Balneário Camboriú, e não encontrar por lá o dirigente que ostenta o nome do prédio: Delfim de Pádua Peixoto Filho, uma das 71 vítimas do acidente aéreo da Chapecoense, na Colômbia, que ocorreu na madrugada do último dia 29 de novembro.
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Em um misto de estranheza e consternação, Rubens Renato Angelotti falou ontem pela primeira vez para jornalistas na condição de presidente da FCF. Aprendendo a lidar com câmeras e microfones, fez um rápido discurso, carregado de sentimento e referências ao antecessor e homenagens aos dirigentes e atletas da Chapecoense.
– Não gostaria de chegar à presidência dessa forma que cheguei, porém, isso deve ter um propósito. A vida segue e só existe uma maneira de honrar esses guerreiros, que é dando sequência aos trabalhos que até aqui foram conduzidos por eles, manter o que vinha sendo feito – disse.
Sem experiência de Delfim, novo dirigente pede ajuda
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Natural de Curitiba, Angelotti tem 63 anos e atua como empresário no ramo alimentício. Reside em Criciúma e gosta de ser chamado de Rubinho – não o Barrichello, como fez questão de frisar – em meio a risadas. Envolveu-se com futebol em 1995, na direção do Tigre. Ciente de que tem bastante trabalho pela frente, resumiu a forma que pretende atuar no comando do futebol estadual em uma palavra que está em voga desde a tragédia da Chape: união.
– Não tinha a pretensão de estar aqui. A vida me deu, quem sabe, esse presente. O futuro da federação está em minhas mãos. A minha gestão gostaria de compartilhar com os meus vices, dar sequência aos trabalhos feitos até aqui, mas quero ouvir muito os clubes de futebol, as ligas e os funcionários dessa casa. Não tenho a experiência do Delfim, então vou precisar da ajuda de todos – afirmou, apontando que visitará a CBF na próxima semana em busca de apoio e reaproximação após o desgaste criado pelo antecessor.
Empossado na terça-feira, Angelotti ainda está se ambientando. Reconhece que ainda não conhece todos os funcionários da FCF, mas mesmo assim espera contar com o apoio deles para dar continuidade às ações. A rotina, entretanto, vai mudar. O novo presidente não dará expediente diário. Planeja estar presente na Federação duas ou três vezes por semana e vai contar com a ajuda de um assessor pessoal – Lédio D?Altoé, ex-superintendente do Criciúma – para auxiliá-lo nos trabalhos diários.
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Com menos de dois meses para o início do Estadual, o novo mandatário mira na competição como principal objetivo:
– Quero fazer um grande Campeonato Catarinense – resume, antecipando que a taça a ser entregue ao campeão estadual de 2017 levará o nome do ex-presidente da FCF.
ENTREVISTA
Surpreendido pela morte de Delfim, Rubens Angelotti ainda se acostuma às novidades que a função lhe imputa. O novo presidente da FCF é arisco aos microfones, mas atendeu a reportagem após a coletiva e falou sobre o desafio à frente da entidade e como foi a articulação para comandar a gestão do futebol de Santa Catarina:
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A gestão de Delfim de Pádua Peixoto Filho teve participação importante na ascensão do futebol catarinense. A Chapecoense é o maior case de sucesso, sem dúvida. De que forma o senhor acredita que pode dar sequência nesse trabalho, de fazer com que “novas Chapecoenses” surjam?
Rubens Angelotti – “O futebol catarinense é considerado hoje muito forte. Como você disse, a Chapecoense foi um meteoro. Estava quase fechando as portas, ressurgiu das cinzas e chegou onde chegou. O nosso intuito é fortalecer o futebol catarinense para, quem sabe, voltarmos a ter quatro times na Série A (do Brasileiro), apesar de outros centros não gostarem muito da ideia. Se nós conseguirmos mais uma Chapecoense ou duas, ia ser uma maravilha. Vou trabalhar para isso”.
Em algum momento o senhor cogitou a possibilidade de não assumir a presidência?
Angelotti – A princípio, quando eu soube da notícia e me procuraram para assumir, eu pedi um tempo para pensar. Tinha que falar com a minha esposa, com os meus filhos. Eu estava em um cotidiano de empresário, e tinha que fazer uma mudança de vida. Conversei com o presidente Antenor (Angeloni, do Criciúma), que foi ele e o Delfim que me colocaram como vice. Perguntei a ele se eu deveria assumir, ele me apoiou. A família concordou, aí eu assumi.
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