Thomas Vinterberg é um daqueles diretores que têm o dom de perturbar o público. No mínimo, causa um certo desconforto até nos mais insensíveis. Foi assim com a obra-prima Festa de Família (1998) e o premiado A Caça (2012). Sem histórias clichês, ritmo frenético ou violência – não que esse enredo seja ruim –, ele explora bem a fragilidade das relações humanas. É o que ocorre em seu recém-lançado A Comunidade, drama com maquiagem cômica que, na verdade, é um soco na cara: simples e dolorido.
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Na narrativa, uma família mente aberta dos anos 70 dinamarquês recebe como herança uma mansão. Enquanto o patriarca Erik (Ulrich Thomsen) quer vender o imóvel, Anna (Trine Dyrholm) convence o marido a criar uma comunidade. Uma espécie de lar anarquista onde todos dividem as tarefas, pelo menos na prática, e compartilham da amizade. Além da filha do casal Freja (Martha Sofie Wallstrom), começam a viver na casa amigos e alguns desconhecidos.
É perceptível o esforço de Vinterberg no início do filme para destacar a relação entre todos os personagens nesta democracia idílica – quase toda cena é regada à cerveja. Ele mostra com detalhes a chegada de cada morador à mansão, as conversas e as complexas discussões. Porém, aos poucos, o grupo se transforma em coadjuvante e a harmonia da casa é abalada pela relação do casal Erik e Anna. O professor de arquitetura se apaixona por sua aluna Emma (Helene Reingaard Neumann) e deixa a esposa, enquanto a filha observa tudo.
A Comunidade foca na história dos três personagens, destacando a reeducação sentimental de Anna para sobreviver no mesmo teto do ex-marido e sua nova namorada. Ao longo da narrativa ela vai praticamente se desmanchando. Apesar de um sentimentalismo que aparece pouco em outros filmes do dinamarquês, a atuação da personagem dá conta do recado e chega a chocar.
É claro que Vinterberg não é mais o mesmo do início do Dogma 95, quando gostava de subverter a linguagem do cinema junto com o colega Lars Von Trier. Em A Comunidade, ao invés de usar a música ambiente como fazia nos anos 90, ele usa o som limpinho de Elton John para dar o espírito de liberdade da época. Outra ponto que incomoda é a tentativa do diretor de acelerar a história, principalmente na primeira parte, o que compromete o filme em alguns momentos.
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Embora os títulos anteriores de Vinterberg sejam mais sarcásticos do que o sentimentalismo de A Comunidade, o drama traz um ar cômico que é perturbador a ponto de o público rir enquanto uma mulher se desgraça na tela. E você se pergunta: será que ele fez de propósito?
Em cartaz no Paradigma, às 14h
Por falar em sarcástico…
A horda de milhares de zumbis que aparecem em The Walking Dead não representa 10% do medo causado pelo sádico Negan (Jeffrey Dean Morgan), personagem que deu o ar da graça no final da temporada passada e aparece na nova fase. No primeiro capítulo, que foi ao ar no domingo, ele termina o que começou a fazer nos capítulso passados, quando prometia matar mocinhos com um taco de beisebol adaptado com arame farpado. Como de costume, a nova temporada da série espanca o sofrimento dos personagens, mas não emociona. Porém, vale assistir a boa atuação de Morgan, que destoa dos demais.