A diretora da trama e viúva do cineasta, Helena Ignez, comandou a apresentação do longa durante a Noite da Pipoca, promovida pelos cursos de comunicação da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Pelo menos 200 pessoas, em sua maioria universitários, acompanharam a sequência de cenas e de objetos vermelhos que compõem o cenário do filme. A história traça um paralelo do mítico Bandido da Luz Vermelha com a de um suposto filho dele, que também escolheu o mundo do crime.
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A atuação do cantor Ney Matogrosso como protagonista do longa foi uma das últimas a ser decidida pela diretora do filme. Helena disse que precisava de um ícone, com envolvimento nas causas sociais para interpretar o personagem.
A filha do roteirista, Djin Sganzerla, também atua no filme. Além de dirigir o longa, a viúva de Sganzerla também realizou o sonho do companheiro de 35 anos. O cineasta, morto em 2004, queria filmar a sequência do filme O Bandido da Luz Vermelha, um clássico do cinema marginal lançado em 1968. Em um bate-papo com os espectadores, Helena Ignez disse que respeitou as cenas diagonais e as indicações de câmera dadas por Sganzerla no roteiro. Disse também que a presença da cor vermelha era uma exigência do ex-marido.
– O vermelho está presente em todo o roteiro, de uma forma picante. Rogério está inserido no cinema entre os grandes criadores. Ele era incompreendido, assim como todos os gênios – afirmou.
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E foi essa sabedoria extrema citada por Helena que chamou a atenção da tradutora Nícia Nogara, natural de Joaçaba, e que morou durante vários anos na Itália. No país europeu, ela chegou a traduzir o filme O Bandido da Luz Vermelha para exibição em uma televisão local.
– Quando vim para Joaçaba, levei uma cópia do filme para um amigo italiano. Ele foi exibido pela primeira vez lá, em uma rede de televisão, com a minha tradução. Sganzerla era muito mais valorizado fora, mas deve ser um orgulho para os brasileiros – diz.
Família do cineasta se emocionou
Para a vi, a direção do filme foi o meio de realizar o sonho de Sganzerla. Para a mãe e os irmãos do cineasta, a história representa emoções e lembranças. Parte da família acompanhou a exibição do longa-metragem. A mãe do cineasta, Zenaide Sganzerla, continua morando em Joaçaba. E fez questão de parabenizar Helena e dividir as reações com o público, mesmo admitindo que o coração estivesse doído.
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– Fiquei muito comovida. Lembrei-me de quando Rogério era criança. Ele foi um menino brilhante, precoce em tudo e nos proporcionou muitas alegrias – afirma.
Além dela, os irmãos Ângelo e Albino Sganzerla também acompanharam a exibição do filme.
Zenaide Sganzerla (à frente), Albino (à esquerda) e Angelo: realização de um sonho
“Fazer o filme foi doloroso e amoroso”
Como foi ver o filme pronto, depois de poder realizar o sonho de Sganzerla?
Helena Ignez – Eu fui aprontando ele. A emoção foi grande, a cada momento. Foi um sonho doloroso e amoroso, ao mesmo tempo. O filme me traz muita energia, porque eu vejo que as coisas continuam as mesmas quando a gente não está mais aqui neste mundo. O que deixamos pode ser continuado por outros seguidores.
Como foi a receptividade em Joaçaba?
Helena – Achei bem gostosa a receptividade, notei as pessoas interessadas. Acho legal, tem tudo para Rogério ser muito reverenciado aqui, porque ele tinha uma relação próxima com as pessoas. A presença dos familiares dele também foi importante, porque todos admiram o trabalho e podem se lembrar de quanto ele era especial.
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Um filme sobre a história de Rogério está sendo lançado em paralelo?
Helena – Mr. Sganzerla – Os Signos da Luz foi lançado na mesma época. Eu não dirigi esse filme, apenas trabalhei na coprodução. É a história do Rogério e o trabalho dele como cineasta. Foi bacana conseguir lançar os dois ao mesmo tempo. Sganzerla começou a escrever o roteiro de Luz nas Trevas na década de 90, parou um tempo, retomou em 2003, pouco antes de adoecer. Algumas coisas no roteiro estavam inacabadas e precisamos dar um destino aos personagens.
Há outras exibições previstas para o Estado?
Helena – Estamos negociando uma exibição em Florianópolis. Estrear em Joaçaba foi uma oportunidade interessante, por ser a cidade natal do Sganzerla. Estar aqui significou muito.
Você é atriz e foi casada com dois ícones do cinema marginal. Como é continuar na área por tanto tempo?
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Helena – Fui casada com Glauber Rocha durante cinco anos e passei mais 35 anos ao lado do Rogério Sganzerla. Acho que está muito mais fácil fazer cinema. Quando começamos, sofremos muito com a Ditadura Militar, que era contra as pessoas que pensavam. Eu cheguei a ser exilada e morei fora do país, onde também trabalhei na área. A Ditadura foi muito burra e acho que caiu por causa disso.