O assalto em Criciúma acontecido na madrugada desta terça-feira (1º) fez surgir na internet e nas redes sociais a busca pelo termo “novo cangaço” – que vem sendo associado à modalidade que inclui assaltos simultâneos e ataques a quartéis realizados por pessoas organizadas e fortemente armadas.

Continua depois da publicidade

A expressão remonta ao cangaço, onda de crimes e violência ocorrida em quase todo o sertão nordestino entre os séculos XVIII e XX.

– Eram grupos de criminosos errantes do sertão nordestino, que iam de povoado em povoado, fazenda em fazenda, realizando assaltos – explica o historiador Fabrízio Franco, pesquisador da criminalidade no período da Primeira República do Brasil. – Eram grupos organizados, preparados e violentos.

> Moisés fala em “ação marginal” após assalto a banco em Criciúma e promete resposta

O termo “cangaceiro”, aliás, era utilizado desde o final do século XIX para se referir aos camponeses pobres que viviam no nordeste brasileiro, sempre de forma pejorativa: eles eram retratados vestindo roupas de couro e chapéus, e carregando carabinas, espingardas, e as facas longas e estreitas conhecidas como peixeiras. Lampião, nascido Virgulino Ferreira da Silva, foi um dos maiores e mais famosos líderes do cangaço, e sua figura acabou entrando para o imaginário brasileiro.

Continua depois da publicidade

Assaltos como o realizado em Criciúma nesta madrugada vêm sendo chamados de “novo cangaço” pelas proporções, pela organização e pela forma de atuação dos envolvidos. O fenômeno vem sendo comentado desde 2018, inicialmente em estados do Nordeste; mas no último ano também em São Paulo e no interior dos estados do Sul do Brasil.

– Outra característica importante é que os grupos são errantes – destaca Fabrízio. – Não são da própria cidade: eles invadem a cidade, atacam e fogem em seguida.

– A gente chama de modalidade de “novo cangaço” – confirmou o tenente-coronel Cristian Dimitri Andrade, comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar de Criciúma, em um áudio enviado à imprensa. – Fazem assaltos simultâneos, atacam quartéis, como atacaram o 9º Batalhão.

– A diferença é que o cangaço era uma resposta de um grupo de pessoas pobres, marginalizadas, em uma região de seca e dominada pelo coronelismo – observa Fabrízio. – Os cangaceiros tinham uma coisa meio “Robin Hood”; certo nível de apoio da população mais pobre. Já o novo cangaço parece ser fruto apenas do crime organizado, já que vemos o poder financeiro dos grupos pela qualidade dos carros e armas que usam.

Continua depois da publicidade