“ Acordei cedo no dia 30 de novembro de 1979 para acompanhar o noticiário. O presidente Figueiredo estaria em Florianópolis naquele dia. As rádios anunciavam protestos de estudantes e donas de casas. O clima estava tenso em Florianópolis, com policiais em todas as esquinas. O exército e o SNI estavam mobilizados. As primeiras informações davam conta de que as donas de casa da região da Costeira, no trajeto entre o aeroporto e o centro da Cidade, iriam saudar o Presidente exibindo panelas vazias, protestando contra a carestia e a ausência de liberdade.
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Mas, antes das 10h, horário previsto para a chegada do presidente à sede do governo catarinense, um grupo de estudantes da UFSC já se aglomerava em frente à sacada do Palácio Cruz e Souza. Portavam cartazes com frases de efeito, alguns atacando duramente a figura do presidente. “Abaixo a ditadura”, “Arroz, Feijão, Saúde e Educação”,…
Indignado com a gritaria dos manifestantes, João Figueiredo resolveu se dirigir até a sacada do Palácio e com um gesto obsceno desafiou os estudantes. A resposta foi imediata com um sonoro xingamento. Em seguida, o presidente desceu as escadas do Palácio e atravessou a rua em direção aos manifestantes ordenando que a polícia agisse. Foi um alvoroço danado, mas o grupo se dispersou e voltou a se reunir nas proximidades do café Ponto Chic, pois lá o presidente receberia o Diploma do Senadinho, honraria que se confere aos manezinhos.
E, naquele local, constatou-se um novo confronto com agressões físicas e morais de parte a parte. Alguns ministros se envolveram na confusão, sendo até agredidos. A polícia usou da sua força para garantir a ordem, efetuando diversas prisões.
Foi um protesto sério e até violento, mas a iniciativa proporcionou bons frutos ao país. Depois da novembrada, o próprio presidente se convenceu de que o ciclo dos militares deveria se encerrar. A transição para a democracia foi sendo conquistada gradativamente, pois a população não deu mais tréguas ao governo. Logo em seguida, a emenda Dante de Oliveira ensejou o movimento “Diretas Já”, a maior campanha cívica de todos os tempos no Brasil e finalmente veio à democracia que com todos os seus defeitos ainda é a mais justa forma de governo. “
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