No capítulo 100, que mudou os rumos da novela Avenida Brasil, em uma cena digna de filme de terror, Nina (Débora Falabella) ressurgiu de uma cova onde foi enterrada pela algoz Carminha (Adriana Esteves). Suportou uma arma apontada para a cabeça para, então, virar o jogo e dar início a uma série de tortura psicológica. Apesar de repulsivas, as cenas não reduziram os índices de audiência. Ao contrário, aguçaram ainda mais os fãs do folhetim.
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Por que você assiste Avenida Brasil?
No episódio do cemitério, a novela atingiu 40,5 pontos no Ibope, número considerado muito bom para a faixa de horário. O capítulo do início da vingança alcançou 45 pontos. Nem a cena mais dramática foi capaz de causar repulsa aos telespectadores.
Para a psicóloga especialista em Terapia Familiar Eliane Araújo, o fato de a novela mostrar de uma forma idealizada a vingança de Nina pode explicar por que as pessoas não deixam de assistir mesmo às cenas mais violentas. Na avaliação de Eliane, torcer pelo personagem que busca vingança é um comportamento comum. Entretanto, ela teme os impactos da aprovação de uma conduta inadequada. Ela exemplifica a afeição das pessoas por Carminha, uma personagem sem valores morais.
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– Preocupa que as pessoas torçam por alguém que faz coisas muito ruins, mas acredito que não seja por maldade. É uma idealização de uma situação que, se acontecesse realidade, seria digna de repulsa – explica Eliane.
A psicóloga acredita que, se fosse real, o público condenaria, também, a posição de Nina, que passou a torturar psicologicamente Carminha.
Violência se tornou cotidiana para muitos
Na análise do sociólogo especialista em Educação e Mestre em Educação e Cultura, Roberto Warken, o fato de a violência ter se tornado cotidiana, dificulta a repulsa dos telespectadores. Ele acredita que o público se interessa por Avenida Brasil por se identificar com duras realidades. Nina é uma personagem em busca de seus direitos. E o fato de a personagem ter vindo do lixão e tentar reverter a realidade, representa todas as pessoas que não são reconhecidas socialmente.
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– A novela mostra um grupo de pessoas que não tem acesso a serviços do governo, não têm poder monetário e financeiro, por isso, a população brasileira se identifica. Além do linguajar diferenciado e da violência, que por estar incorporada à realidade se torna tolerante.
Cenas da vida real
Avenida Brasil vem conquistando o país não apenas pela trama envolvendo Nina e Carminha. Muitos aspectos da obra retratam a realidade de famílias brasileiras.
Tufão e Monalisa são exemplos de personagens que construíram a fortuna com o mérito do trabalho. Esta e inúmeras outras cenas da novela fazem referência a um comportamento moral respeitado pela sociedade brasileira. Ao mostrar emergentes de boa índole, Avenida Brasil conquista não apenas a Classe C – que hoje representa 54% da população brasileira – mas todo o país.
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A novela, que já bateu o recorde de 45 pontos no Ibope, tem 52% da audiência formada pela fatia da população que mais avança em consumo no país. Mas sem deixar de alcançar também as mais diferentes classes sociais.
– Os valores e os personagens mostrados na novela dialogam com a realidade brasileira. A forma como o autor mostra esses personagens não só evita a rejeição das demais classes como fazem o sucesso da novela – avalia Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto de Pesquisa Data Popular, especialista em mercados emergentes.
Folhetim retrata tendências sociais
Estudo do Data Popular sobre o comportamento da nova classe média mostra que, assim com o casal Carminha e Tufão, a família brasileira é exigente com o que consome. Um exemplo? Ambos contrataram a cozinheira Nina com o intuito de refinar os tumultuados jantares da família.
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Avenida Brasil também exibe crescente acesso à Educação revelados pelo Censo 2010. Assim, faz sentido enriquecer a trama com referências que vão desde Charles Dickens a Eça de Queiroz.