A migração acelerada do leitor de jornais e revistas impressos para a mídia eletrônica embute um dos maiores desafios da mídia moderna: como fidelizar esse cliente? Como sustentar as despesas, num quadro em que anunciantes e até assinantes minguam?
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Dois painéis realizados no 9º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo abordaram essas questões. O encontro foi promovido em São Paulo, de quinta a sábado, pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
No painel “Construindo uma identidade digital e global de jornalismo”, dois integrantes da Vice Media, o editor-chefe Jason Mojica e o editor Sterling Proffer, falaram de como há duas décadas esse grupo – predominantemente focado na internet – tenta construir novas narrativas para fatos noticiosos mesclados com interação do público que está online. A Vice tem uma revista impressa (como tudo começou), vista como cult por jovens e com tiragem ainda baixa, mas foca mesmo é em reportagem por meio de vídeos de internet. Eles têm tamanho médio e edição ágil, veloz.
– Acabou-se o foco em longos documentários, mas também não vamos competir com o imediatismo e fazer notícias em vídeos curtos. Nosso conteúdo é global e as pessoas nos ajudam a fazê-lo – resumiu Mojica.
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Com 1.800 colaboradores nos cinco continentes, a Vice trabalha muito com freelancers e assinaturas, embora admita publicidade. A aposta em assuntos polêmicos – depoimentos exclusivos de traficantes ou viciados, gente que faz sexo bizarro, moda alternativa, para ficar em alguns exemplos – tem rendido comentários e polêmicas, embora também se caracterize por jornalismo sério, ainda que com roupagem nova (diferentes angulações de câmera, performance personalista dos repórteres).
A Vice está formando equipe no Brasil para lançar uma revista em português, também impressa, mas voltada sobretudo para internet. Sterling Proffer admite que o foco é no público jovem, aquele que hoje se informa através da timeline do Facebook – e não dos jornais impressos e portais de empresas jornalísticas.
– As pessoas escolhem um buffet self-service de notícias, em que servem-se de uma coletânea de notícias de fontes diferentes. E ofertamos isso – resume Proffer.
O outro painel centrado em mídia alternativa se chamou Novos investimentos em jornalismo de investigação e foi todo dedicado à revista eletrônica Indie Journalism, que deve ser lançada em setembro por um grupo de jornalistas oriundos de jornais do eixo Rio-São Paulo-Brasília. A aposta será em reportagem de fôlego na internet, fugindo do modelo texto curto. Terão até 25 páginas, cada, dedicadas a um público exigente e que aspira a conteúdo profundo e exclusivo. Todas terão vídeo, áudio e fotos e a ideia é que sejam produzidos por gente tarimbada na profissão. A edição será bilingue (português inglês), deve ser mensal e ter duas reportagens mensais próprias e uma produção independente, comprada. A expressão Indie é da gíria britânica para “independente”.
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O foco é violência urbana, conflitos internacionais, meio ambiente, corrupção. Não só no Brasil, mas em lugares onde isso possa despertar interesse mundial.
– Queremos oferecer reportagens chamativas, surpreendentes e relevantes, com linguagem cinematográfica, a preço acessível – resume um dos editores da revista, Felipe Seligman (ex-Folha de São Paulo).
E como vai se sustentar a Indie? Em princípio, sem anúncios, para garantir a independência alegada no nome. A ideia é vender assinaturas eletrônicas, para um público que pode comprá-las. E 55% do que for vendido será repassado aos autores da reportagem. O preço imaginado para a assinatura mensal é US$ 4,99 (cerca de R$ 12). Especialistas comentam que o foco será semelhante ao da revista Piauí, só que com vídeos. A interação com leitores virá com espaço para opinião, mediado pela direção da revista.
Outra palestra do congresso discutiu o erro do jornalista Mario Sergio Conti – que publicou uma entrevista com um sósia de Luiz Felipe Scolari pensando que fosse o próprio treinador da Seleção Brasileira
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