O Paquistão seguia parcialmente paralisado nesta quinta-feira pelas mobilizações de islamitas indignados com a absolvição da cristã Asia Bibi, condenada à morte por blasfêmia em 2010.
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Milhares de manifestantes bloqueavam as principais ruas das grandes cidades do país, o que causou transtornos no trânsito. Novas manifestações estão previstas para sexta-feira.
“Os protestos vão continuar sejam quais forem as circunstâncias”, escreveu no Twitter Khadim Hussain Rizvi, chefe do partido radical Tehreek-e-Labaik Pakistan (TLP), conhecido por sua linha especialmente dura em relação à blasfêmia.
O TLP já havia bloqueado o acesso à capital Islamabad durante várias semanas em novembro de 2017 por motivos similares e conseguiu a destituição do ministro da Justiça.
Na quarta-feira, a Suprema Corte do Paquistão acatou um recurso e absolveu a cristã Asia Bibi, cujo caso provocou indignação no exterior e violência no país.
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Asia Bibi, mãe de cinco filhos, foi condenada à pena de morte após uma briga com muçulmanos com quem trabalhava e que se negaram a dividir água com ela por ser cristã. Depois do incidente, uma muçulmana foi a um clérigo e acusou Bibi de ter cometido blasfêmia contra o profeta Maomé.
O caso teve repercussão internacional e chamou a atenção dos papas Bento XVI e Francisco. Em 2015, uma das filhas de Asia Bibi se reuniu com o atual pontífice.
A história desta cristã de origem modesta divide profundamente a opinião pública paquistanesa.
A blasfêmia é uma questão extremamente sensível no Paquistão, um país muito conservador no qual o islamismo é religião de Estado. A lei prevê a possibilidade de pena de morte para pessoas consideradas culpadas de ofensa ao islã.
Um relatório da Comissão dos Estados Unidos sobre Liberdade Religiosa Internacional afirma que quase 40 pessoas foram condenadas à morte ou cumprem pena de prisão perpétua por blasfêmia no país.
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Nesta quinta, na metrópole portuária de Karachi, os manifestantes se reuniram em dezenas de lugares, segundo a polícia local, enquanto os grandes centros comerciais, mercados e escolas permaneceram fechados. Em Peshawar (oeste), a segurança foi reforçada nos lugares de culto cristão.
Em Sheikhupura (Panyab, centro) houve confrontos entre policiais e manifestantes.
Apesar da grande mobilização, as autoridades não parecem dispostas a ceder.
“Todos os que participam das manifestações devem saber que não podem desafiar o Estado (…) Não se enganem acreditando que o Estado é fraco”, declarou na véspera o primeiro-ministro Imran Khan.
Ele pediu que os paquistaneses respeitem o veredito e advertiu aos manifestantes que o Estado não “tolerará a sabotagem”.
Os ativistas dos direitos humanos consideram Bibi um símbolo dos problemas da lei que reprime a blasfêmia no Paquistão, muitas vezes utilizadas para solucionar problemas pessoais, de acordo com os críticos.
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Durante a análise do recurso, no início de outubro, os juízes da Suprema Corte questionaram o fundamento da acusação.
“Não vejo nenhum comentário desagradável sobre o Corão no relatório da investigação”, disse o juiz Saqib Nisar, enquanto o magistrado Asif Saeed Khan Khosa citou vários pontos de desrespeito aos procedimentos.
Vários extremistas ameaçaram publicamente os três magistrados da apelação em caso de uma absolvição.
* AFP