Uma nova testemunha prestou depoimento à Polícia Federal nesta semana sobre a suspeita de desvios de recursos na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), alvo da Operação Ouvidos Moucos, que prendeu sete pessoas na última semana — todas foram soltas um dia depois. Durante fala, que ocorreu na última terça-feira, a professora afirma que alertou o reitor Luiz Carlos Cancellier em pelo menos duas oportunidades sobre irregularidades no programa de Ensino a Distância (EaD). Porém, em ambas, o reitor não teria lhe dado ouvidos e em uma delas teria chegado a afirmar que “lhe dava a sua palavra de que ali não havia problema”, referindo-se aos fatos apontados pela docente. A transcrição do depoimento foi obtida com exclusividade pelo jornalista Raphael Faraco, da NSCTV.

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O primeiro encontro da professora com o reitor teria ocorrido no final de 2016. Na ocasião, Cancellier teria pedido à docente apoio a um candidato em uma eleição para diretor de um dos centros da universidade. A professora, então, condicionou o apoio a uma investigação sobre as supostas irregularidades, porém o reitor teria lhe dito que aquele assunto não era “de interesse no momento” e que acreditava que não havia nada de errado no EaD.

A segunda ocasião em que a professora teria alertado Cancellier sobre os problemas teria ocorrido em 7 de abril deste ano. Ela conta ter sido chamada para uma conversa no gabinete do reitor, após a professora Taisa Dias ter enviado um e-mail com cópia para ele, o corregedor da universidade e um chefe de departamento para alertar sobre as irregularidades no EaD e dizer que o reitor tinha conhecimento dos fatos desde novembro.

Na ocasião, a testemunha diz que o reitor estaria “muito contrariado com esse e-mail” e que perguntou quando Taisa Dias deixaria o cargo que ocupava na época, de coordenação do EaD. Ainda na conversa, a professora diz que o reitor teria feito comentários desabonadores sobre o corregedor-geral da UFSC, chamando-o de “maluco” e que se ele continuasse no cargo todos estariam “ferrados”. Em respeito às denúncias de irregularidades, Cancellier teria lhe dito que não “havia nada de errado com o LabGestão e o EaD” e que poderia lhe “dar a sua palavra” em relação a isso.

Como exemplo de irregularidades, a testemunha afirma que era sabido que funcionários do LabGestão, coordenado por Gilberto Moritz, eram remunerados com dinheiro do EaD. Seria Moritz quem decidia quais professores receberiam as bolas e ,além disso, alguns professores teriam sido procurados para fazer a devolução dos valores de algumas bolsas.

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A reportagem do Diário Catarinense procurou a defesa do reitor Cancellier, que está afastado de suas funções, e a advogada Nívea Dondoerfer Cademartori disse que não tem como se manifestar sobre o assunto no momento, já que não teve acesso ao depoimento. O advogado João Carlos Castilho, que defende o professor Gilberto Moritz, disse que também não teve acesso ao depoimento, mas que “acredita na inocência do seu cliente e que isso vai ficar provado ao longo do processo”.