Penny Dreadful pode, à primeira vista,ser associada com o que Alan Moore já fez em sua conhecida Liga Extraordinária: personagens clássicos da literatura de horror e de aventura mesclados em um universo próprio no qual todos interagem, formam alianças e confrontam ameaças também derivadas da ficção. Só que Moore não tem a primazia da ideia (que talvez possa ser traçada até o escritor de ficção científica americano Philip José Farmer, nos anos 1970) e, em suas duas temporadas, a série criada por John Logan para o canal Showtime e exibida no Brasil pela HBO assumiu uma feição gótica sem concessões que é responsável por grande parte de seus méritos.
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“Sense8” divulga imagens da segunda temporada
Ambientada no fim do século 19 em uma sombria Londres vitoriana, Penny Dreadful estreia hoje sua terceira temporada no canal pago HBO, às 22h. A série reuniu, em sua primeira temporada, um grupo excêntrico de aventureiros do sobrenatural: o explorador sir Malcolm Murray (Timothy Dalton),a misteriosa Vanessa Ives (Eva Green, interpretando sua personagem com cuidado e energia selvagem), o jovem e perturbado médico Victor Frankenstein (Harry Treadaway) e o pistoleiro itinerante Ethan Chandler (Josh Hartnett, renascido com competência de seja lá onde ele estivesse).
À medida que a trama avançava, outros personagens eram apresentados, como o monstro criado pelas experiências profanas de Frankenstein (Rory Kinnear, ameaçador e melancólico); o decadentista Dorian Gray (Reeve Carney) e a prostituta Brona,destinada a uma grande transformação na trama (Billie Piper). A forma como tais personagens se cruzam, se unem e se atraiçoam é, mais do que qualquer grande plot,um dos atrativos da série, bem como seu olhar atento para misturar a ficção de horror com a realidade histórica do período,às vezes tão brutal quanto, com seus sangrentos espetáculos de Grand Guignol, sua atmosfera de sexualidade reprimida e seus museus de aberrações.
Na primeira temporada, o centro da trama era a caça a um grupo de “demônios” semelhantes a vampiros que haviam raptado a filha de sir Malcolm, Mina (mesmo nome da mulher por quem Drácula é obcecado no livro de Bram Stoker). Na segunda, bem inferior, Vanessa assumia o centro da ação, atormentada por um conciliábulo de feiticeiras. Ao fim, traumatizados pela experiência,os personagens se dispersavam pelo mundo.
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Neste início de terceira temporada, talvez alguns vícios de Logan como show runner incomodem o espectador persistente. O mais flagrante deles é o quanto a personagem Vanessa, por mais que amadureça e se torne poderosa, parece sempre voltar ao mesmo ponto zero. E, claro, a série brinca com o que seu espectador sabia, apresentando um personagem que todo mundo achava já ter visto lá no início. Mas o visual bem-cuidado e a criação de um horror próximo às raízes literárias do gênero prometem nesta nova temporada em que o vampirismo enfim sobe ao palco. Não é, claro,uma série facilmente palatável em um tempo em que a fantasia na TV tem a pegada adolescente de Once Upon a Time ou Supernatural e filme de vampiro é a saga Crepúsculo.