Uma nova espécie de planta nunca registrada antes no mundo foi encontrada no Parque Nacional de São Joaquim, na Serra Catarinense, por pesquisadores do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração – Biodiversidade de Santa Catarina (PELD-BISC). Denominada Delairea aparadensis, a espécie é muito curiosa, pois é mais parecida com um gênero africano do que com as da América do Sul. 

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Segundo Luís Funez, pesquisador da UFSC que faz parte do projeto, o que mais chama atenção na planta é a folhagem, que tem formato triangular. Ele explica que não existe outra espécie de planta nessa região, ou mesmo em Santa Catarina, que tenha uma folha com esse formato, por isso é mais semelhante a um gênero nativo da África. 

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— A maior possibilidade é que seja uma mera semelhança na aparência delas, mas a origem é completamente diferente. Nós acreditamos que seja um gênero novo de planta, ainda não descrito. Revisamos vários herbários, que são coleções de coletas de plantas, muitas vezes do século passado, e ninguém coletou isso até agora. É o primeiro registro da planta no mundo — explica o pesquisador. 

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NOVA PLANTA CATARINENSE
O Parque Nacional de São Joaquim revelou uma nova espécie endêmica de Delaire, cujo único parente conhecido é nativo do Sul da África. Batizada como Delairea aparadensis, o nome tem ligação direta com a região de Aparados da Serra Geral, cujas escarpas são extremamente íngremes e vão da Serra Gaúcha à Serra Catarinense.
A Delairea aparadensis foi localizada no Morro da Igreja, no Parque Nacional de São Joaquim
ECOSSISTEMA
A Delairea aparadensis habita as matas nebulares, um tipo de floresta anã que ocorre em áreas de topo de montanha.
A planta é resistente, pois enfrenta temperaturas abaixo de zero, geadas, nevascas e sincelos.
1.800m
oceano
mata nebular
morro
A Delairea aparadensis se desenvolve em meio à mata, à meia sombra, mas parece se beneficiar de aberturas de sol.
CARACTERÍSTICAS
A Delairea aparadensis é um intermediário entre arbusto e trepadeira, planta conhecida como arbusto escandente. Embora o terreno onde cresça seja bastante inclinado, é extremamente úmido.
dois dentes proeminentes
pecíolos
roxos
2cm
a 6cm
2m
A Delairea aparadensis ainda não possui um nome popular, mas já é classificada como criticamente ameaçada devido à contínua redução das áreas de proteção ambiental na região.
FLORES
A floração ocorre em março. O que se vê como ‘flores’ é um aglomerado de várias minúsculas flores amarelas chamado capítulo.
O odor é desagradável, uma mistura de doce com fezes, tanto que pequenas moscas costumam pousar nas flores.
2 mm
capítulo
Após a floração, os frutos são formados. Ainda não há confirmação, mas acredita-se que, como muitas espécies desta família, os frutos sejam levados pelo vento.
INFOGRAFIA: Ben Ami Scopinho, NSC Total
Fonte: Luís Adriano Funez, consultor em curadoria do Herbario Barbosa Rodrigues, em Itajaí, e doutorando na UFSC, onde trabalhou no projeto Peld-Bisc.

Localizada no Morro da Igreja, a Delairea aparadensis é uma planta bastante resistente, capaz de enfrentar temperaturas abaixo de zero e geadas, que são comuns na região. A sua floração ocorre em março e ela possui um odor desagradável — uma mistura de doce com cheiro de fezes. Por isso, costuma atrais pequenas moscas.

A planta teve sua descoberta confirmada pela revista científica Phytotaxa. As novas espécies só são reconhecidas após sua publicação em uma revista científica especializada.  

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Espécies raras em Santa Catarina 

Além da nova planta encontrada recentemente, no ano passado, a equipe do projeto fez mais uma descoberta inusitada — uma espécie nova de planta parasita de raízes. Batizada de Prosopanche demogorgoni, ela vive a maior parte do tempo embaixo do solo e apenas aparece em cima da terra no período de floração.  

Prosopanche demogorgoni é uma planta parasita de raízes
Prosopanche demogorgoni é uma planta parasita de raízes (Foto: PELD-BISC/Divulgação)

O pesquisador destaca que o projeto de longa duração feito em Santa Catarina engloba várias áreas da biologia. Além de plantas, os pesquisadores já descobriram várias espécies novas de fungos e até animais.  

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As pesquisas são realizadas principalmente no Parque Nacional de São Joaquim, uma área muito rica em biodiversidade. Segundo Luís Funez, cerca de um quarto das espécies descobertas são extremamente raras, que só ocorrem em ambientes altos, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ele destaca a importância de estudar as espécies de conhecer a biodiversidade da região. 

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— Essas descobertas são muito importantes, tanto para conhecer o patrimônio biológico que nós temos e então preservá-lo, já que ninguém preserva o que não conhece, tanto para saber como essas espécies novas podem ser úteis para o ser-humano. Todo ecossistema saudável com essas espécies habitando nele nos fornecem água limpa, nutrientes e ar respirável, porque eles absorvem a poluição que a gente lança no planeta — destaca. 

Além dos benefícios ecológicos, o pesquisador explica que as novas plantas descobertas podem ser exploradas como espécies alimentícias, podem conter compostos medicinais e até serem usadas como tratamentos para doenças. Elas podem, também, ser utilizadas de forma ornamental — para decoração —, já que muitas se destacam pela características únicas.  

Planta alimentícia Erechtites albiflorus
Planta alimentícia Erechtites albiflorus (Foto: PELD-BISC/Divulgação)