*Por Rebecca Boyle
Quase todos os meses, a Terra ganha uma lua nova, mas no mês passado foram duas. Por volta das quatro da manhã de 15 de fevereiro no Observatório Mount Lemmon, 2.700 metros acima de Tucson, no Arizona, dois astrônomos do Catalina Sky Survey, Kacper Wierzchos e Theodore Pruyne, viram a tela de seus computadores registrarem um ponto se movendo contra um fundo estático de estrelas.
Continua depois da publicidade
"Não parecia ser diferente dos outros asteroides próximos à Terra que descobrimos, exceto que foi encontrado orbitando a Terra em vez do Sol", disse Wierzchos. Se a descoberta se mantiver, o objeto, chamado 2020 CD3 por enquanto, seria a segunda minilua já encontrada.
O sistema solar está cheio de pedacinhos primordiais no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, a maioria dos quais circunda o sol. Às vezes, a influência gravitacional de Júpiter envia essas rochas espaciais para o interior do sistema solar, onde algumas podem ameaçar a Terra. Elas orbitam perto de nós, mas não nos orbitam. Isso é o que torna o 2020 CD3 tão raro. Cerca de um ano, um ano e meio atrás, a gravidade do sistema Terra-Lua capturou a pequena rocha em sua dança orbital.
Companheiros efêmeros da Terra podem ser muito comuns, de acordo com Michele Bannister, astrônoma da Universidade de Canterbury, em Christchurch, na Nova Zelândia. "Eles estão orbitando aproximadamente o mesmo espaço que nós, e alguns vão entrar no lugar certo, onde iniciarão um balé conosco. E então é como qualquer dança: vocês giram um pouco juntos e seguem caminhos separados. Há algo lindamente transitório nisso", declarou ela.
Continua depois da publicidade
Astrônomos do Minor Planet Center, organismo internacional que rastreia descobertas de asteroides, anunciaram o achado em 25 de fevereiro. Com apenas algumas noites de dados, é muito cedo para dizer exatamente do que o 2020 CD3 é feito. Mas muitos astrônomos estão convencidos de que não é uma sobra de um lançamento de foguete ou de outra atividade humana.
Pode ser do tamanho de um carro pequeno. "Provavelmente caberia em uma sala, mesmo em San Francisco ou Nova York", disse Alessondra Springmann, astrônoma da Universidade do Arizona.
Mais observações ajudarão os astrônomos a determinar quando ela chegou, mas se espera que deixe a órbita da Terra em cerca de duas semanas, disse Paul Chodas, que dirige o Centro de Estudos de Objetos Próximos à Terra, da Nasa. "Pegamos o sujeitinho no momento de sua saída", contou ele.
A Terra divide seus arredores com uma série de objetos. "Quase luas" são asteroides que orbitam o Sol, mas estão perto o suficiente da Terra para se parecerem com pequenas luas em movimento retrógrado. Asteroides "ferradura" circundam o Sol, mas a gravidade da Terra os afasta do nosso planeta, causando suas estranhas órbitas em forma de U. Duas nuvens de partículas de poeira carregadas, conhecidas como nuvens Kordylewski, estão estacionadas em um nexo gravitacional entre a Terra e a Lua. E a Terra tem um conhecido asteroide troiano, uma rocha que fica com um planeta, liderando ou seguindo sua marcha anual. Mas nenhum deles é um verdadeiro satélite como a Lua, ou agora o 2020 CD3.
Continua depois da publicidade
A luazinha anterior orbitou a Terra em 2006 e 2007 antes de voltar a se juntar a seus companheiros asteroides. Alguns observadores inicialmente pensaram que o objeto, designado 2006 RH120, era um pedaço de um foguete propulsor da missão Apollo 12, mas os astrônomos acabaram descobrindo que se tratava de uma rocha. A previsão é que retorne em agosto de 2028.
Alguns observadores amadores disseram que o 2020 CD3 também pode ser lixo espacial. Mas um pedaço de foguete se moveria de forma diferente pelo espaço, afirmou Chodas. Os astrônomos estão dando duro para determinar sua natureza, mas Chodas relatou que o 2020 CD3 está ficando mais fraco e provavelmente estará muito apagado para ser visto até junho.
Aconteça o que acontecer com o 2020 CD3, não será a última rocha espacial a se juntar à Lua ao redor da Terra. Quando o Observatório Vera Rubin começar a tirar fotos de todo o céu, os astrônomos talvez consigam encontrar uma nova minilua a cada poucos meses, de acordo com uma análise de Grigori Fedorets, astrônomo da Queen's University, em Belfast. Talvez a Terra esteja constantemente hospedando uma minilua de meio metro de diâmetro, e a cada década mais ou menos captura uma tão grande quanto a 2020 CD3, disse Fedorets.
Serão necessários esse telescópio e outras missões espaciais para localizar todos, afirmou Amy Mainzer, astrônoma da Universidade do Arizona que lidera uma equipe que projeta um novo satélite chamado Missão de Vigilância de Objetos Próximos à Terra.
Continua depois da publicidade
"Só podemos ver aquilo que temos tecnologia para ver. E, necessariamente, não é tudo o tempo todo", concluiu ela.
The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.