A Polícia Federal deflagrou na manhã desta segunda-feira a terceira fase da Operação Carne Fraca, iniciada em 2017 para apurar irregularidades no setor frigorífico. Um dos alvos é a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, maior empresa de Santa Catarina e uma das maiores do país. Em SC há mandados para Chapecó – quatro de busca e apreensão, dois de condução coercitiva e um de prisão temporária -, e para Treze Tílias – um mandado de busca e apreensão e um de prisão temporária.
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Entre presos estão o ex-presidente da empresa, Pedro Faria, sócio da Tarpon Investimentos – uma das maiores acionistas da companhia -, que ficou à frente da BRF até 31 de dezembro, e o ex-vice-presidente Hélio Rubens Mendes dos Santos Junior, que renunciou na última semana em meio à crise econômica e insitucional que a empresa atravessa.
Pela investigação da PF, cinco laboratórios privados credenciados no Ministério da Agricultura (Mapa) fraudavam os resultados de exames e amostras do processo industrial de uma empresa do ramo. Eles repassavam laudos e dados fictícios ao Serviço de Inspeção Federal, impedindo que o órgão conseguisse fiscalizar a qualidade do processo industrial. Os cinco laboratórios tiveram as autorizações suspensas pelo Ministério da Agricultura (Mapa). Há três plantas frigoríficas envolvidas nas fraudes, nenhuma delas em SC. No Estado, uma fábrica de ração de Chapecó estava implicada no esquema.
Segundo o Mapa, que atua em parceria com a PF na operação, as fraudes estavam relacionadas à presença do grupo de bactérias Salmonella spp. A presença dessa bactéria é comum já que faz parte da flora intestinal das aves. Entre os mais de 2 mil tipos de Salmonella, diz o Mapa em nota, “existem dois de preocupação para a saúde animal e dois de saúde pública, que devem desencadear medidas específicas dentro das granjas”. No entanto, conforme o Ministério, esses patógenos de maior risco não estariam envolvidos nas fraudes e não há risco à saúde pública, até pela forma de consumo das aves – o cozimento mata esse tipo de bactéria.
Havia fraude em produtos destinados ao mercado interno e também à exportação. Ao menos 12 países para os quais o Brasil exporta exigem requisitos sanitários especficos de controle da bactéria. O processo de fiscalização do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal já havia identificado iregularidades nos procedimentos para respaldo à certificação sanitária, o que resultou na exclusão destes estabelcimentos para exportação aos doze países.
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Duas das três plantas frigoríficas envolvidas no esquema tiveram a autorização para exportar suspensa, a de Mineiros (GO) e a Carambeí (PR) . Esta última voltou a estar apta aos embarques ao exterior em novembro e uma terceira, a de Rio Verde (GO), deve ter a autorização suspensa hoje, segundo a PF.
O processo fraudulento seria de conhecimento dos técnicos, responsáveis pelo processo de qualidade e até de altos executivos da empresa, inclusive seu presidente à época, Pedro Faria. Ainda segundo a Polícia Federal, o grupo empresarial teria realizado manobras extrajudiciais para acobertar a prática dos ilícitos ao longo das investigações. As fraudes ocorreriam desde 2012. Um processo trabalhista de uma ex-funcionária, que seria coagida a fraudar exames, forneceu provas importantes para esta fase da operação.
Além de Santa Catarina, a operação cumpre mandados no Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Goiás. Ao todo, são 91 ordens judiciais, expedidas em Ponta Grossa (PR), sendo 11 de prisão temporária, 27 de condução coercitiva e 53 de busca e apreensão.
Entre os crimes que os investigados deverão responder estão falsidade documental, estelionato qualificado e formação de quadrilha, além de crimes contra a saúde pública. Os presos serão conduzidos à Polícia Federal do Paraná e serão ouvidos ao longo da semana.
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Procurada pelo DC, a BRF não havia se posicionado a respeito do assunto até a última atualização desta matéria.
Carne Fraca
A BRF já havia sido investigada na primeira fase da operação Carne Fraca, deflagrada em 17 de março de 2017. Na época, a Polícia Federal prendeu executivos da empresa e de outra gigante do setor, a JBS, além de diversos fiscais agropecuários federais.
Em Santa Catarina, foram cumpridos mandados judiciais no frigorífico Rainha da Paz, em Itajaí, e no Peccin Agroindustrial, em Jaraguá do Sul. Apesar disso, amas as empresas têm sede no Paraná, de forma que nenhuma planta industrial catarinense foi alvo das operações.
Apesar disso, as consequências do esquema tiveram efeito em Santa Catarina. Países como China, Chile e Egito chegaram a interromper temporariamente a compra da carne brasileira, mas retomaram algum tempo depois.
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