Restam apenas 2% da cobertura original de Mata Atlântica, na sua porção nordestina, acima do Rio São Francisco. Metade das espécies de árvores praticamente desapareceu. A floresta está dividida em pequenos fragmentos, e o porte das árvores vem diminuindo. A situação é ainda mais dramática em relação às árvores frutíferas: 2/3 foram extintos.
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Sem alimento suficiente, muitos animais não conseguem sobreviver. Especialistas calculam que metade das espécies de mamíferos sumiu da região, grande parte sem nenhum registro científico. Por isso, a recente descoberta de uma nova espécie de porco-espinho é motivo de comemoração entre os pesquisadores.
Coendou speratus é uma nova espécie de porco-espinho que foi descoberto em uma floresta ao longo da costa atlântica do Brasil, na semana passada.
O bicho é muito raro e se parece bastante com outros porcos-espinhos brasileiros, mas é menor e tende a viver no meio da floresta, em vez de suas bordas, como seus primos mais conhecidos.
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O animal tem hábitos noturnos, e ocorre na mesma região em que há outro tipo de porco-espinho, mas um pouco maior: C. prehensilis. Ele vive dentro dos oito mil hectares de pequenos fragmentos de mata preservados da Usina Trapiche.
Supõe-se que este porco-espinho esteja em perigo. O principal problema é que a área onde vivem mantém apenas cerca de 2 por cento da sua floresta original, devido ao desmatamento. Com essa pequena região para usar de habitat, é provável que o Coendou speratus provavelmente já está sofrendo os efeitos negativos da endogamia (quando irmãos se reproduzem).
Ao contrário do mito popular, porcos-espinhos não podem atirar seus espinhos contra os predadores. Alimentam-se de folhas, frutas, raízes e brotos.
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O nome científico atribuído ao bicho revela sua importância simbólica. Em latim, speratus significa esperança, explica Antonio Rossano, pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) especialista em mamíferos que liderou o trabalho. A expectativa é que a descoberta marque o fim do processo de desaparecimento de espécies.
Para isto, é fundamental recompor a cobertura vegetal e ligar os fragmentos de mata hoje isolados. Além disso, os pesquisadores esperam que haja um incremento das pesquisas para não apenas descrever novas espécies como também aumentar o conhecimento científico acerca do bioma.
O trabalho mobilizou pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), estes responsáveis pela análise genética. Além disso, o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan) e a Usina Trapiche, que mantém importantes fragmentos de floresta, apoiaram a iniciativa.
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A descoberta fez parte de um estudo de cinco anos que contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) e da ONG Conservação Internacional (CI-Brasil).