O economista sênior do Banco Bradesco, Robson Pereira, foi o convidado da reunião semanal da diretoria da Associação Empresarial de Joinville (Acij), realizada na última segunda-feira. A empresários da cidade, falou sobre cenários para 2015. Apresentou muitos gráficos e tabelas. Disse que a expansão da economia global se consolida num patamar menor do que o que já tivemos em décadas passadas. O especialista aposta em alta de 3,4% no próximo ano. E ainda argumentou que a nova equipe econômica do governo tem clareza sobre os problemas reais.
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Antecipar expectativas
– Uma das funções do mercado financeiro é antecipar expectativas. As taxas de juros nos Estados Unidos vão aumentar em 2015. Isso trará impactos importantes sobre o fluxo de capitais, com efeito relevante sobre o Brasil. O crescimento da China, agora bem menor do que em anos passados, de 6% ao ano, ainda nos favorece. Mas, do lado exportador, há mais dificuldades porque 70% da pauta brasileira de itens exportadores é de commodities. O excesso de oferta de minérios, soja e petróleo derruba preços.
Desequilíbrios
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– O crescimento econômico mundial entre 1980 e 2014 foi repleto de oscilações, uma verdadeira montanha-russa. De 2004 a 2007, a expansão dos negócios foi superior a 5%, mas houve desequilíbrios e a notória bolha imobiliária norte-americana em 2008-2010, com impactos generalizados mundo afora. O produto interno bruto (PIB) mundial vai aumentar 3,4% em 2015. Temos de nos acostumar com uma nova tendência, a de crescimento menor do que o que tivemos em décadas anteriores. Chamamos isso de ?novo normal?.
Juros americanos
– No primeiro semestre de 2015, a taxa de juros básica nos Estados Unidos vai subir. E há tendência de valorização do dólar em relação a outras moedas. Este movimento já está em andamento desde julho. Há um viés de desvalorização do real. No fim deste ano, o dólar estará em R$ 2,55, aproximadamente.
Estoques
– As indústrias estão com níveis de estoques muito elevados, principalmente nos setores de bens duráveis e semi-duráveis. Os custos de produção da indústria de transformação crescem mais do que o valor adicionado. É um quadro insustentável no médio e longo prazos.
Consumo
– Cerca de 50 milhões de pessoas entraram no mercado consumidor nos últimos anos. Isso implica em ganho de escala de produção, o que ajuda as indústrias. Outro coisa é o fato de o mercado de trabalho estar aquecido. O efeito direto é o aumento dos custos de mão de obra, um problema para as empresas.
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Global
– O ambiente mundial indica desaceleração do mercado da China, a alta dos juros norte-americanos e a Argentina em recessão. Internamente, São Paulo, Rio e Minas Gerais poderão decretar racionamento de consumo de água.
Reservas
– O Brasil tem US$ 380 bilhões em reservas cambiais, que só serão utilizadas em último caso. Este volume alto de reservas intimida algum possível movimento de ataque especulador contra a moeda brasileira. Acredito que as reservas vão aumentar ainda mais.
Inflação
– A inflação para 2015 deve ficar pouco abaixo de 6,5%. Com o câmbio disparado, naturalmente dificulta reduzir a inflação. Importamos muitos produtos. Apesar disso, há razões específicas para o dólar não chegar a R$ 2,70, como imaginam alguns empresários. Listo as razões: a Europa vive risco de deflação; o preço do petróleo está em queda; a equipe econômica do novo governo Dilma animou o mercado; e o câmbio, em grande medida, deriva do grau de confiança para o futuro. O que não pode ocorrer é o Brasil perder o grau de investimento concedido por consultorias de análise de risco. Não creio que isso vá ocorrer. Os nomes da equipe da Dilma têm clareza sobre os problemas reais.
Desafiador
– O cenário global para o Brasil é desafiador. O principal desafio é recuperar a confiança dos agentes econômicos. Em 2014, o PIB brasileiro cresce 0,5%. Para o próximo ano, estimamos alta de 1%. As expectativas para 2016 podem ser melhores em razão de ajuste fiscal e outras medidas que a nova equipe econômica deverá adotar. Então, o crescimento vai começar a acontecer já no segundo semestre de 2015. Os vetores que sinalizam nessa direção são o retorno da confiança, a retomada da produção e a recuperação dos Estados Unidos.
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