A literatura erótica, que tem ocupado as listas dos livros mais vendidos, também já foi o foco de escritores renomados que se aventuraram a narrar aventuras e desejos sexuais. É o caso do livro Cartas a Nora, que reúne cartas trocadas entre o irlandês James Joyce e sua esposa, Nora Barnacle Joyce e que foi recentemente traduzida por Sérgio Medeiros e sua mulher, Dirce Waltrick do Amarante. A nova edição chegou este mês às livrarias.
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– É a única tradução dessas cartas feita por um casal. É uma experiência única que vai além da competência de tradução, mas entra na liberdade que a gente tem como casal. Além disso, é a tradução mais completa já feita em língua portuguesa desta obra, que é considerada uma das grandes obras eróticas da literatura universal. É mais completa, por exemplo, que a edição espanhola e a francesa, que consultamos – afirma Sérgio Medeiros diretor-executivo da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC).
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Ele e Dirce, que é professora da UFSC, são escritores e têm como projeto pessoal traduzir para o português obras significativas da literatura, como o próprio Cartas a Nora, que mostra o papel fundamental da esposa no desenvolvimento de Joyce como escritor.
– Joyce teve um caso no começo de seu relacionamento com Nora e passou a ela uma doença venérea. Para evitar que ele se envolvesse com outras mulheres, sempre que eles estavam distantes eles se incentivavam a escrever cartas eróticas – relata Sérgio.
O resultado é um conjunto de correspondências que trata de todos os aspectos de um relacionamento. Desde o cotidiano, afazeres, viagens e compras, até sexo e desejo. As cartas registram o primeiro recado trocado pelo casal, depois que se conheceram caminhando pelas ruas de Dublin, na Irlanda, e seguem acompanhando seu relacionamento, sempre movimentado, e que influenciou intensamente obras de Joyce como Ulisses e Finnegans Wake, ambas consideradas entre as mais inovadoras e radicais do século 20 – e também entre as mais difíceis de ler.
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– As cartas são esclarecedoras para ler Finnegans, por exemplo. Ele não pensou as cartas como obra de arte, estava escrevendo o que lhe vinha na cabeça, então ,não tem correção. É curioso porque como escritor ele burilava seus romances, reescrevia muitas vezes, então conhecemos um outro Joyce. Aprendi muito com essas cartas – conta Sérgio.
Fora o insight literário, as cartas oferecem uma visão crua da vida sexual do casal, narrada com detalhes por Joyce.
– Ele inventou muitas técnicas narrativas para dar conta de uma linguagem que mudava conforme o dia e os sentimentos. Ele é o máximo. Ulisses pra mim é o máximo da literatura – admira, Sérgio.
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O mesmo se aplica à narração erótica, Joyce desenvolveu sua própria maneira de falar sobre o assunto e também nesse aspecto se tornou referência.