O nome não entrega, mas o bairro Nova Brasília começou com um dos loteamentos mais antigos de Joinville – e tem desempenhado cada vez mais um reconhecido papel de “bairro dormitório” da zona Oeste da cidade. De 2006 a 2008, o Nova Brasília perdeu 28% das industrias e alguns comércios.

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Em compensação, dobrou a quantidade de prestadores de serviço: prova de que os homens de negócio tem visto vantagem em se esforçar para que os moradores tenham acesso a farmácias, peixarias, mercadinhos.

Aqui e ali, começam a surgir condomínios que pretendem retomar o crescimento da população do bairro, que tem se mantido estável nos úlitmos anos. Uma reclamação dos moradores é que as agências bancárias e as casas lotéricas têm sido meio preguiçosas em se instalar no bairro. Por uma questão até legal: o zoneamento do bairro não permitia a instalação desse tipo de estabelecimento. Apenas após a consolidação das leis de uso e ocupação do solo, em janeiro, o Nova Brasília passou a ser apto para abrigar um banco.

Outra reinvidicação que recheia os pedidos de vereadores feitos à Prefeitura dizem respeito à manutenção das ruas de saibro. Das 47 proposições, 17 são de patrolamento de ruas. Isso porque, apesar de ser um bairro antigo (e do nome, referência à cidade projetada na ponta do lápis para ser a capital do Brasil), o bairro ainda tem um percentual grande de ruas de chão. Algumas delas devem ser asfaltadas este ano – a maioria por pedido dos moradores, que também arcarão com parte dos custos.

O secretário regional, Alido Lange, já cansou os ouvidos de tanto escutar pedidos de pavimentação.

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– Por mim, toda pavimentação é boa. Daí não precisa se preocupar com patrolamento. Rua de saibro dá mais trabalho -, afirma.

Fora do “centro” do Nova Brasília, que se concentrou ao longo da rua Minas Gerais, o bairro tem uma espécie de zona rural. As chácaras de antigamente cederam lugar a loteamentos como o Jativoca e o Santa Mônica. Nessas redondezas, o gado ainda é levado para pastar, a vaca é ordenhada todas as manhãs. E também há um ar bucólico de casinhas simples de madeira ou alvenaria.

Parte delas têm marcas nas paredes e muros, resquícios das muitas enchentes que fizeram os moradores terem de deixar suas casas. Pelo menos duas consequências das cheias do fim de 2008 permanecem. Uma família ainda mora de auxílio-aluguel, em outro bairro. E, na escola municipal Júlio Machado da Luz, os alunos nunca mais tiveram uma aula normal de educação física, porque a quadra de esportes continua interditada.

E uma das marcas do Nova Brasília – os trilhos dos trens, que antigamente cortavam os arrozais – devem contornar o bairro e mudar radicalmente a paisagem. A retirada dos 18 quilômetros de trilhos em Joinville está prevista para começar em meados do ano que vem.

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É uma mudança radical para muita gente. Os trilhos eram usados como caminho pela família de Honorato José Armenal, o Nato, e de Hilda. A paisagem do Nova Brasília mudou nos últimos 57 anos, mas a casa de madeira onde eles moram até hoje continua no mesmo lugar. O casamento dura apenas alguns anos a mais que o tempo no bairro onde criaram dez filhos.

Na década de 50, o Nova Brasília era um matagal cortado pelo trilho do trem, que também servia de caminho para os moradores até o mercado mais próximo, na avenida Getúlio Vargas.

– A menina ia de bicicleta. Pendurava as sacolas no guidão e vinha. Não tinha movimento -, conta Hilda, de 79 anos.

Nato, de 83 anos, teve arrozal, trabalhou em fábrica de cachimbo, serviu ao Exército. Nunca deixaram o bairro, por escolha.

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– Gosto tanto que nem tenho cara de sair daqui -, comenta Nato.