O comunicado oficial do Brusque Futebol Clube sobre o caso de racismo denunciado pelo jogador Celsinho, do Londrina, gerou revolta na internet e colocou o clube catarinense no centro de uma polêmica. Após a nota ser publicada, na noite deste domingo (29), o tema ficou entre os três assuntos mais comentados do Twitter e trouxe à tona o debate sobre o enfrentamento ao racismo.

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No texto, o clube catarinense nega a situação e acusa o jogador Celsinho, do Londrina, de “perseguição”, lembrando que outros casos recentes de racismo foram denunciados pelo jogador. Ao fim da nota, a diretoria do Brusque trata o caso como “oportunismo”.

De acordo com o comunicado do Brusque, nenhum membro da comissão ou diretoria do clube teria feito os xingamentos racistas, e tais comentários são repudiados pela instituição. Apesar disso, o clube cita a súmula do jogo, em que teria sido dita a frase “vai cortar esse cabelo de cachopa de abelha” — o que também configura como um ato de racismo.

A nota não pegou bem e o clube foi criticado por culpar a vítima. Atletas, jornalistas esportivos de relevância nacional, páginas futebolísticas, torcedores do próprio Brusque e até mesmo outros clubes usaram as redes sociais para repudiar o comunicado do Brusque e prestar solidariedade ao jogador Celsinho.

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A repercussão

O jornalista André Rizek, do SporTV, repudiou a nota da equipe catarinense. “Não sei o que é sofrer racismo e jamais saberei. Então, quando um negro relata ter sido vítima desse inferno, minha obrigação é ouvi-lo e refletir”, escreveu.

Rizek ainda criticou o ataque a Celsinho e mandou um recado ao clube: “Acorda, Brusque! Tome vergonha na cara para se retratar da vergonha dessa nota”. 

O narrador da TNT, André Henning, foi mais direto e classificou a nota como “lixo”.

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O comentarista Vitor Sérgio Rodrigues, também da TNT, escreveu que o comunicado é um exemplo do que “não” responder após uma acusação de racismo.

O jornalista Mauro César, do Uol e SBT, classificou o posicionamento do Brusque como “abjeto”, no sentido de desprezível.

O jornalista Luciano Potter, da rádio Atântida, escreveu que a nota seria um ato de “burrice atroz” e depois complementou: “O que não pareceu claro para alguns: a nota existiu para dizer que não houve racismo. Mas serviu como documento para o ato. Ou seja: é uma nota de uma burrice atroz”.

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O influenciador Carter Batista, criador da página “Esse Dia Foi Louco”, que possui mais de 176,5 mil seguidores, lembrou que esse foi o terceiro ataque sofrido por Celsinho durante a disputa da Série B.

A página de humor “Desimpedidos”, que possui mais de 2,1 milhões de seguidores também se manifestou sobre o caso. “Racismo não é oportunidade para aparecer e NUNCA é culpa da vítima”, diz a publicação que é finalizada reforçando a importância de combater o racismo.

Alguns clubes também repudiaram a nota do Brusque, entre eles o rival Marcílio Dias. O clube de Itajaí escreveu que é inadimissível que ainda hoje exista racismo e que se orgulha em levar o nome de um herói nacional negro.

Até mesmo o perfil do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, criado para monitorar e divulgar casos de racismo e ações afirmativas no futebol brasileiro, repercutiu o assunto. A página pediu mais respeito e escreveu que o clube catarinense acusa o jogador do Londrina de oportunismo e ameaça processar o atleta.

O caso

Durante a partida entre Brusque e Londrina, neste sábado (28), pelo Campeonato Brasileiro da Série B, o jogador Celsinho, do Londrina, acusou um membro da equipe do Brusque de racismo. Segundo ele, uma pessoa que estava no camarote do estádio Augusto Bauer teria o chamado de “macaco” no primeiro tempo da partida.

No intervalo, o meia do time paranaense chamou o quarto árbitro e relatou o ato de racismo, inclusive apontando e identificando a pessoa no camarote do clube catarinense. Em entrevista ao SporTV, Celsinho desabafou sobre o caso.

— É lamentável, ainda mais se tratando de um ato desses mais uma vez. É inadmissível. Uma equipe de porte médio baixo, recém promovida a uma Série B de Campeonato Brasileiro, cometendo um ato desses. É inadmissível, mas as providências serão tomadas — afirmou.

Celsinho ainda criticou o número de pessoas presentes no camarote do Augusto Bauer durante a partida. O meia disse que não entende o motivo para tantas pessoas estarem no local, sendo que a presença de torcedores ainda não está liberada nos estádios brasileiros.

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Celsinho durante entrevista ao SporTV
Celsinho durante entrevista ao SporTV (Foto: SporTV/Reprodução)

Ato de racismo registrado na súmula

A arbitragem registrou a denúncia de racismo de Celsinho na súmula da partida, assinada pelo árbitro Fábio Augusto Santos Sá Júnior, os assistentes Cleriston Clay Barreto Rios e Daniel Vidal Pimentel, além do quarto árbitro Evandro Tiago Bender.

“Por volta dos 45 minutos do 1º tempo, o atleta do Londrina, Sr. Celso Luis Honorato Júnior informou ao quarto árbitro que foi ofendido com as seguintes palavras: ‘vai cortar esse cabelo seu cachopa de abelha’, por um homem na arquibancada, que foi identificado pelo coordenador da CBF, sr. Ricardo Luiz, como Julio Antônio Petermann, staff da equipe do Brusque. Informo ainda que o referido atleta, juntamente com o diretor de futebol da equipe do Londrina, sr. Germano Cardozo Schweger, estiveram na porta do vestiário da arbitragem, após o término do jogo e confirmaram o relato acima”, diz o documento.

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