Desde a última sexta-feira, equipes de Assistência Social, Trabalho e Habitação do Estado e de Florianópolis têm se mobilizado após a informação da vinda de dois ônibus com haitianos e senegaleses vindos do Acre.

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Na tarde deste domingo, entre uma reunião e outra, a secretária da mesma pasta do Governo de Santa Catarina, Ângela Albino, conversou com a reportagem por telefone.

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A infraestrutura para acolhimento dos estrangeiros, o encaminhamento dessas pessoas e, principalmente, a reflexão acerca das políticas de imigração foram detalhadas pela parlamentar.

Leia a entrevista na íntegra:

Hora de Santa Catarina – Quantas pessoas estão atuando no acolhimento dos haitianos e senegaleses em Florianópolis?

Ângela Albino – Estamos com uma ação de muita colaboração com a Prefeitura de Florianópolis. Nós temos seis pessoas da nossa equipe mobilizadas e a Secretaria Municipal de Assistência Social, que é titular desse serviço, tem uma quantidade mais expressiva, que aí mobilizou outras equipes. Também há a participação do Conselho Estadual de Afrodescendentes, que está mapeando quem tem domínio do creóle e pode ajudar na comunicação com o grupo.

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HSC – Quais são as principais dificuldades nesse momento?

AA – A maior dificuldade é de informações mesmo. No sábado, ficamos até tarde da noite aguardando a chegada deles, mas que só foi confirmada para hoje à noite [ontem]. Essas informações erráticas prejudicaram um pouco o serviço, mas no geral estamos conseguindo contornar isso e dar conta de dar resposta nessa questão.

HSC – O que está previsto nesse suporte e acolhimento iniciais no ginásio Capoeirão, em Florianópolis?

AA – Nós vamos atuar em três frentes. Na primeira delas, faremos esse acolhimento humanitário, que é levar para lá, hospedar e fornecer kits de higiene, por exemplo. A Secretaria da Saúde também está nos ajudando porque recebemos a informação de que eles não têm todas as vacinações, então vamos fornecer as doses necessárias.

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Em um segundo momento, a nossa Secretaria de Estado promoverá a inclusão produtiva deles. Faremos um mapa com as capacidades de cada um, com experiência profissional ou estudos realizados, e encaminharemos para capacitação profissional e domínio da língua portuguesa. Nós temos um grupo de pessoas que já possui experiência com haitianos e se dispôs a nos ajudar para que eles possam o mais rápido possível dominar o português. No cadastro, também providenciaremos inscrição no CPF e carteira de trabalho.

HSC – Essas ações devem acontecer por quanto tempo?

AA – Nós esperamos que eles possam rapidamente se dirigir ao mercado de trabalho e, como qualquer pessoa, sustentar sua própria vida. O Estado de Santa Catarina não tem hoje as condições para sustentar indefinidamente, como qualquer outro brasileiro que se encontrasse em uma situação de miséria. A gente precisa promover a saída da pessoa dessa condição e não ir mantendo isso. Nosso horizonte é o de superar a dependência o mais rápido possível, mas é claro que isso depende de condições objetivas.

HSC – Que análise pode ser feita acerca das atuais políticas de imigração?

AA – A nossa política de imigração é do período da Ditadura Militar. Ela ainda é pautada por uma visão do inimigo externo, muito burocrática. E o Brasil vive um momento inédito que é de receber imigrantes que buscam trabalho. Há poucos anos eram os nossos filhos que iam para os Estados Unidos, Japão ou Europa buscar qualificação e melhor colocação no trabalho. Portanto é uma situação nova para o Brasil. E está claro para nós que essa situação precisa ser revista, o próprio Ministério da Justiça também enxerga dessa forma.

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A vinda dos haitianos e senegaleses pode se transformar em uma solução de mão de obra, se a gente souber transformar esse pessoal que está vindo com disposição de trabalho. A grande tarefa do Estado catarinense hoje me parece que é a de analisar como é possível tornar essas pessoas capazes de serem atrativas para o mercado de trabalho.

É importante a gente frisar que, na verdade, o povo catarinense é quase na totalidade filho de imigrantes. Então precisamos ter um olhar generoso. Eles estão em uma situação que o Brasil já viveu. Além do mais, tem muitos setores da economia catarinense, como a construção civil, que não exige interação com o público, que precisam de trabalhadores que os nossos já não se dispõem mais.