Mãe e avó amorosa, Maria Seraphina de Oliveira completaria 100 anos na última sexta-feira. Nascida em Itapetininga, interior de São Paulo, aos nove anos, órfã de pai e mãe, veio jovem para Santa Catarina, com meu avô Manoel e duas filhas pequenas. Em 1942, foram residir em Laguna, onde ministrou aulas no Grupo Escolar Jerônimo Coelho.

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Com uma bagagem intelectual admirável, era uma profissional respeitada. Lecionou durante 22 anos matemática, didática, psicologia, desenho e pedagogia na Escola Regional Varella Júnior, atuando também como auxiliar de direção. No Ginásio Lagunense ministrou história, puericultura e português. Formou-se Lente Catedrática pela Universidade Federal de Santa Catarina. Deu aulas de português no Conjunto Educacional Almirante Lamego para alunos de 1º e 2º graus, até a sua aposentadoria.

Na Rádio Difusora, década de 50, diariamente apresentava crônicas de sua autoria no programa A Hora do Despertador. Escreveu quatro contos, premiados no Rio de Janeiro em concurso nacional. Recebeu diversos prêmios, e seus contos foram gravados em disco na Rádio Tupi, de São Paulo. Suas trovas foram publicadas em uma revista da Argentina.

Por três vezes foi premiada no Concurso de Trovas, promovido pela Associação dos Jogos Florais, do Rio de Janeiro. Em 27 de abril de 1996, foi homenageada pela Câmara de Vereadores de Laguna com o título de “Cidadã Lagunense”. O discurso que proferiu nessa ocasião foi considerado por muitos uma peça literária. Tenho ele em casa e lembro bem do início. ” É o meu coração que pede a palavra” iniciou o discurso naquela noite memorável.

Faleceu no último dia 2 de fevereiro, aos 99 anos e 9 meses em Balneário Camboriú, onde residia. Teve uma vida abençoada e saudável, lúcida até o último dia. Tinha vontade de aprender, não reclamava de doença, cansaço ou dor e se interessava pela vida contemporânea. Como avó, guardo com muito amor as melhores lembranças dela. Sempre se interessou e participou da minha vida e dos meus momentos mais importantes. Quando fiz 15 anos, o cartão que recebi dela também foi publicado e até hoje me emociono quando o leio. Meu filho de sete anos, que conviveu pouco com ela, chorou intensamente quando ela faleceu, tamanho era o amor que recebia dela cada vez que íamos visitá-la.

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Dona Maria Seraphina dedicou-se também à pintura e ao desenho, e suas obras eram presenteadas aos familiares e amigos. Na última vez que a viu, meu filho recebeu dela um coração de tecido.

– Este é o meu coração que estou te dando – disse ao neto.